sábado, 28 de novembro de 2015

VIAGEM CCLIII - NO FIM DE TARDE, NA CHUVA

Reprodução [endereço abaixo]
uma calça jeans, velha, 

recém lavada vestiu-o à perfeição

reta e sem estilos desnecessários, 

de um índigo profundo

e ele sentiu-se tão bem 

naquele fim de tarde de 

verão em que se anunciava

uma chuva de vida a pingar pela terra

pelos reservatórios sedentos

e em todo o seu corpo, nem magro, nem gordo
(talvez com algumas protuberâncias pela idade?)

foi caminhando pela chuva com uma nesga de sol ao fundo

do lado oeste onde via os prédios arranhando o céu de São Paulo

caminhou e caminhou mais um pouco

a água ainda mais enriqueceu sua vida

àquele instante

tirou a camisa e em um estupor que causou em alguns

pela idade e estar sem camisa

sorriu à esquerda, à direita

e seguiu o caminho até chegar 

àquela casa, campainha dois toques

"já vai" e latidos foram ouvidos

à porta, foi abraçado e recebeu pulos e a alegria do cão

que ali habitava contagiou-o de forma inequívoca

pela bagunça feita
(brincou em reciprocidade com o cachorro bochechudo)

todo encharcado, recebeu uma massagem nos ombros

beijou, foi beijado com vigor

na entrada povoada de plantas altas

mãos e corpos esfregando-se, 

e algumas palavras trocadas

sussurros recônditos

foram à sala

tapete felpudo, rolaram por ele

misturaram-se entre os pelos

em apertos de saudade que os afrouxava antes

ficaram por ali aos beijos, em carícias calmas

fortes e de extensão corpórea toda

ficaram mais minutos, sem preocupações de gozos imediatos
(de imediatismos toques? não eram afeitos a estes feitos)

preferiram contar coisas, fatos, piadas,

juras verbais de eternidade amorosa

até que, embalados pela poderosa chuva, dormiram

placidamente sentindo o corrente de ar fresca a lhe baterem nos corpos

vindo da pequena fresta da sacada

ele acordou perto da virada do "hoje para o amanhã"

acariciou o grande cão que fazia companhia em silêncio

e de repente, todos acordaram e incontidos na alegria

brincaram os três como crianças brincam com seus cães

em um átimo, recordou-se que é bom viver assim

gostar assim e se alegrar, mesmo que a vida insista em se pronunciar

árida e seca - a chuva continuava a molhar noite adentro

http://www.huffingtonpost.com/2013/12/28/top-art-stories-2013_n_4476306.html

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