terça-feira, 30 de junho de 2015

31] CENÁRIO SP - UM CORREDOR E UM QUARTO PARA 4

Reprodução [endereço abaixo]
Mora quase onde não há mais gente onde morar: é um encarapitado nestes conjuntos habitacionais construído ainda nos anos 70 pelo então governo do militares peripatéticos - apressaram-se em construir a Transamazônica, pontes e etc... andavam para lá e para cá pelo país-continente. "Mais para República (des)Federativa Tupiniquim do Sul". 

Como paulista de quatro costados, um daqueles que se diz quatrocentão, no que ele acrescentava o complemento "falido" de tudo que é costa - desde as costas do seu pé, do pau e por todos as costas um tanto já providas de pelos castanhos claros, claro. 

Separatista não era, mas desejava que os estados tivessem mais autonomia para tomar decisões inclusive as de carácter financeiro. Talvez, em seu íntimo, quereria mais do que qualquer coisa poder também tomar decisões mais livres, mais autônomas não se importando tanto com o que ele acha que os homens irão julgar. Considerava-se "federalizado para inglês, italiano, americano verem...

Triste? Não era exatamente. E explicaremos logo abaixo.
Amargo? De vez em quando (diferenças há entre tristeza e amargor).

Tinha alguns remédios para a tal amargura. Um deles, era baseado em fumar um baseado no fim do dia, ao entardecer voltando para casa depois da jornada em busca de um salário honesto e digno. Como estes dois fatores andavam em falta, a cannabis tornava-se melhor que qualquer remédio sintético. 
"Mas dignidade e honestidade boa parte dos fodões do poder não possuem". 

Outro 'medicamento' que o ajudava era o uísque que emborcava goela abaixo aos sábado quando saía para frequentar imediações de lugares onde ninguém se importavam muito com o que o outro faz, com o que o outro veste, qual droga usada. 

Munido da garrafinha com o precioso burbom, ele colocava o líquido de milho e zanzava em ziguezague chupando balas de alcaçuz porque a mistura dos dois gostos lhe dava um arejo em seu hálito. 

Conversava tudo o que se mantinha calado durante dias da semana com qualquer pessoa destas ruas e bares. A lábia (e tinha lábios vermelhos carmim) o ajudava a conseguir o sexo que desejava: na rua, ou então, no máximo, naqueles quartos de motel da Bela Vista que se parecem com tudo, menos com um lugar de assepsia impecável - da trinca da porta aos chinelos escassos.

Um labirinto de corredores (pintados do que já foi um verde-abacate) até chegar todos ansiosos ao quarto que lhe proveria recato perante o resto mundo e que proveria a perversão necessária e desejada para eles; porém, antes mesmo de chegar, pelos meandros do estreito espaço do corredor, pegaram-se por ali mesmo - uma prévia de leve.

Numas destas noites, com mais 3 no cômodo, ele foi rei e desmandou e mandou novamente. Ficaram por horas para se degustarem e ali, na cama, como em seu apartamento de 50 m², não coube mais ninguém: encarapitaram-se um cima do outro, revelando odores, arfares, ruídos e regozijo de gozos. 

E pensar que de sozinho agora depois dos suarentos convivas, sua federação de quase nada na vida, quedava-o ainda um tanto amargo. Mas saciado e esvaziado de fluídos corporais. Marcado pelo corpo por dentes e apertos.

Manhã de um domingo de inverno mais gelado que o usual, ele pôde sentir o cheiros das companhias nele cada vez que se mexia - e gostou à vera. Verdade que esta noite proporcionar-lhe-ia combustível para a semana de procura de um emprego digno e... (não voltemos a esta ladainha de crise). Voltando de metrô para casa, em algum lugar da Zona Sul, lá pelos lados finais da Zona Oeste, ele nem adormeceu nos banco azul.

http://www.deviantart.com/tag/oldboy

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