quarta-feira, 25 de março de 2015

VIAGEM CCXXX - MARÇO É INTERMINÁVEL

Reprodução [endereço abaixo]
Seguido, por trás, pelo mês mais estranho em dias - fevereiro -, vem então os 31 dias de março, o interminável mês: do verão, das águas torrenciais, quando o país começa a funcionar de verdade, o outono, mudanças... 

A fraqueza do segundo é força motriz para o que vem colado e resiliente - março. Muito muda no começo do ano sendo época profícua e longa.

Mudanças e dias sem fim caracterizavam este mês. Ele, um diarista da vida vivendo as 24 horas, um dia de cada vez, pensa que o terceiro período era o melhor do ano - mesmo que tendo uma sensação de infindável março. 


E a finitude do mundo era tão certa para ele; "março não deveria ser diferente - não é!", discursava ao vento, no meio do parque, na avenida, no elevador que subia até o 31º andar. Números coincidentes?
Tudo parecia ser finito, menos o tal mês.

Acontece o que? Ou já aconteceu?

--- Acontecimentos se sucedem e é fácil permiti-los... Eu não tenho direção nenhuma sobre eles, então, deixei que aconteçam porque lutar contra os dias não deve ser bom negócio. Lutas outras sobram, caindo pelas tabelas.
Os 31 dias quedavam-se os maiorais de todos os 365 dias do ano.

Quase morrera em um março distante, infantilmente lembrando e provocante de sensações tão impregnadas que, por vezes, parecia senti-las como se ainda estivesse passando pela quase morte. Aos 17 envolvera-se em um acidente com faca, que de branca arma nada possuía, sendo ferido na terça-feira de carnaval (março ainda detém mais este fator: o reinado da carne pode adentrar no terceiro mês), quase manhã. 

Verteu sangue tanto que hoje se pergunta "como eu não morri àquele dia?"; sem resposta até hoje. o que conseguia lembrar era a sensação de queimadura onde o furo fora feito. Caiu e desmanchando-se na rua de paralelepípedos, perto de sua casa. Sirenes, gente falando com ele e uma dor interminável.

A cicatriz estava ali, logo abaixo do estômago, extensa: irrepreensível presença, 'intocável para tatear'; e até hoje em sua história a vergonha interminável de que alguém visse, mexesse e pior: perguntasse sobre. 
Soava em seus pensamentos que um dia, quiçá, março tornar-se-ia um mês ordinário, misturado aos outros, sem destaque - despercebido. 
"Seria um bom término para ele, ser igual, tudo finito".

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