sábado, 7 de março de 2015

20] CENÁRIO SP - SUBINDO E DESCENDO

Reprodução [endereço abaixo]
Subidas, descidas; aclives sinuosos; curvas fechadas, outras abertas; suores e panturrilhas demandados com frequência, para os bons e para os maus. A cidade é assim. E não para. 

No verão, chuva e o sol; no inverno a garoa e "todo frio pela manhã" de São Paulo.
Homens que caminham diuturnamente pelas estreitas, pelas largas vias de São Paulo, se aproximando (ou tentando, ao menos) como os humanos Terra afora poderiam/deveriam realizar.

Subiram lá do litoral quase 500 anos atrás, espraiaram-se pela grande mancha urbana da metrópole alfa, pelas escarpas íngremes da Serra do Mar e chegaram ao Planalto de Piratininga. Tanto tempo atrás que ele se pergunta se os tais padres conseguiriam imaginar que a cidade transformar-se-ia no que é hoje, muito além da serra onde se assentou.

Observador atento dos costumes e das idiossincrasias paulistanas, o bairro que mora é um dos mais acidentados lugares da urbe: sobe, desce, anda, sua, corre, panturrilha "ardendo", Pompeia. "Claro, aqui não tem vulcão em erupção, mas tem 'subidões' e 'descidões' que exigem esforço - e eu gosto".

Podia andar a pé de sua casa àquela outra casa que vinha frequentando com assiduidade de um Caxias típico: todo dia, pelas manhãs a avistava e às noites, adentrava e ficava. Instalada em um terreno grande, mas sem suntuosidade, e localizada em uma descida de fazer inveja às casas do Pacaembu, o sobrado de "três andares" exige hercúleo esforço - com diversão gratuita garantida.

Houve um dia no qual ao subir as escadas, pôde ver, lá em cima, dois pares de pernas entrelaçados, corpos gemendo, e o indefectível "arfar" humano quando se enroscam para atender à natureza mais igualitária: sexo. E que parecia ser dos bons. Parou por um instante para processar o que via e ouvia. 

Pronto ele estacou no pé do declive - ops... da escada de madeira. Subiu pé ante pé, devagarinho como se fez nos lombos das mulas, lá pelos idos de 1500 e tantos. Atento ao perigo que constataria até mesmo a respiração se tornou sincopada. Chegou "ao topo da serra" e viu; e foi visto. E desgostou de tudo.

Desceu que tomou um capote no último degrau, torcendo seu tornozelo esquerdo arrancando um "PQP" alto e grave. Pegou o casaco - porque chovia em São Paulo àquela noite - e aos trancos e mais os barrancos, ganhou a rua. Iluminada com luz de neônio, aliviou-se ao avistar o bar aberto no fim do quarteirão, tipicamente de bairro. Dirigiu-se correndo ladeira abaixo para tomar uma dose de conhaque, do mais vagabundo que podia existir.

http://www.slate.com/blogs/atlas_obscura/2014/12/09/baldwin_street_in_dunedin_new_zealand_is_the_world_s_steepest_street.html

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