quinta-feira, 1 de agosto de 2019

VIAGEM CCCXLVII - O CAMPEÃO MAIS TRISTE

Arquivo pessoal - Piracicaba/SP
uma medalha de ouro no peito, nada novo
para quê tudo isto?

mas e dentro do coração: latão?
brilhante, vistosa, ganhadora: 

esta é a tal medalha,
exposta, pesada e valiosa...

ganhou como?
na corrida pela vida, pelo dinheiro, 

pela saúde e pela paz,
pelas amizades

(foi campeão com rodadas de antecedência no campeonato das décadas).

pelos amores sequer conseguiu classificar-se
entre os medianamente amorosos:

desclassificado em letras grandes e timbradas pela escola de uma vida
vivida sem ouros.

ele não sabia como ter o ouro dentro do coração,
até agora havia sido o medalhista campeão sagrado mais triste

mais triste ainda, depois de tanto agosto seguido,
porque nunca fora primeiro no coração de ninguém,

e o que era pior: nunca permitira que acontecesse 
este campeonato no qual jogam apenas dois

sem o terceiro, o juiz, sem a torcida,
somente dois, que lutariam por mais amor

mais compreensão
mais tesão

mais respeito
pois nunca perderiam - os dois ganhariam com o tal jogo

então, o campeão mais triste abandonaria o pódio solitário
de campeão absoluto

e desceria ao chão para ser feliz ao lado de alguém
sem que lhes importassem quem chegaria em primeiro lugar

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