quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

14] CENÁRIO SP - VOLTA COM O SOL APAGADO

Faixas e mais faixas, algumas nem pintadas estão; faixas ainda em transformação. E ele nem sabe qual seguir depois de longa balada e que agora está por terminar ao sol de janeiro, quente, "mamônico" de tanto que derretia os asfalto recém feito na avenida Lins de Vasconcelos, ainda perto do metrô Vila Mariana; "rachando a cabeça de qualquer um", dizia ao volante da picape comprada depois que ganhara a quina da mega-sena meses atrás. Tal um sino, sua cabeça pesa que parece que o pescoço não irá suportar tal, parecendo que um envergamento acontecerá ali perto do Parque da Aclimação.

Seu ouvidos ainda zunem da longa exposição aos decibéis faraônicos ouvidos durante a noite toda - e em parte da manhã também.
"9h50, mais cinco minutos eu chego em casa, fecho tudo, apago tudo... Menos o sol, o que seria uma ideia duca! Tomo um relaxante muscular porque minhas panturrilhas doem do esforço da dança eletrônica e das fodas - duas que rolaram - de manhãzinha".

Guiando com cuidado e se esforçando para que a acuidade visual se mantivesse minimamente alerta, o que incomoda é o suor que começa a verter de seu bigode, costas e lugares onde o sol nunca brilha; descalço, ainda consegui estalar os dedos dos pés e assim obter um certo conforto - entre uma troca de marcha e outra e nos sinais  vermelhos.
Parado no cruzamento apertado da Lins, logo depois da estação Vila Mariana, ele se olha no espelho e julga que sua barba cerrada e quase ruiva cresceu um pouco de ontem para hoje e murmurando "só amanhã vou tratar disto".

Um grande impacto, um barulho; uma porrada que o faz bater a cabeça na direção - ainda bem que está usando o cinto de segurança. A luz ígnea do sol o obriga a usar os óculos de sol e batida faz que este se "molde" ao seu rosto: esmigalhado em pedaçõs que adentram sua carne em volta dos olhos.

Confusão! Assim que ele desce, vê um destes carros dos anos 80, pintura multicolor, fumando pelo motor e descer dele dois homens encapuzados que saem correndo atirando para cima. ele então entende tudo e procura a proteção no chão do asfalto quente. 

Sirene o carro modelo 2015 da PM passa raspando por ele em direção aos dois que saíram a pé e entraram em uma rua transversal de pouco movimento onde existem fábricas abandonadas. Um segundo carro da polícia para e lhe dá atenção para ajudá-lo. Perguntas se ele havia visto com detalhes a cara dos marginais.
--- Vi que eram dois usando moletom com capuz, calça jeans e o mais alto calçava um tênis bem colorido, destes modelos atuais. Vi também que saíram tropeçando e o mais baixo parecia mancar. 
--- Mais alguma coisa, algum detalhe? Ouviu falarem? Branco? Negro?
--- Nada, nada mesmo. Mas percebi que um deles mancava porque quando me virei para ver para onde corriam, notei que este sangrava na mão que estava colocada aqui do lado, logo abaixo do quadril. Tem sangue aqui no asfalto. Negros não eram. O que vi sangrando era bem moreno.

Tomado o depoimento, tratado com o seguro a remoção do carro, a empresa o leva de táxi até sua casa. Suando em bicas, mesmo que agora o tempo tenha se nublado. Trôpego, adentra em seu quarto que se ao meio-dia, liga o ar-condicionado, fecha a janela, a cortina e desaba na cama. Dorme em minutos - antes comera um chocolate derretido pelo calor o que o acalmou da tremedeira.

O sol dá uma folga e, sorrateiro que é, se apaga permitindo às nuvens encobrir a a cidade de São Paulo. Agora chove forte. E ele dorme sem medo.

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