terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

79] CENÁRIO SP - O CÃO, GOTAS QUE ESCORREM E A MENSAGEM

Arquivo pessoal - Piracicaba/SP
Logo pela manha cedo, ele acorda seu tutor, feliz e lépido. Preguicento que só vendo, ele lhe dá uns afagos e tapinhas na cabeça e diz bom dia no quase mais alto apartamento, prédio perto do icônico COPAN. Arfadas e ganidos fazem parte da arte do convencimento. Tem também a cara de cachorro sem dono: sempre funciona.  

"Vamos", ele pensa caninamente, "vamos logo. Quero ver o nosso vizinho, e ele já deve estar na rua, em frente à padaria, comendo e eu ainda aqui... Tenho tanta coisa a cheirar, a ver e claro, preciso muito de um alívio pro chamado da mãe natureza. Vamos! Por que não se levanta?".

Ele se levanta, direto ao banheiro, olha pela frestinha de luz da janela deixada aberta à noite que chove sem parcimônia em São Paulo, a Terra da Garoa. Gotas caem em profusão escorrendo. Os trovões se fazem acompanhar, até mesmo os raios; e então, um deles, de maneira a ensurdecer qualquer vivente, faz a energia cair. Ambos, no espaçoso apartamento, levam um susto  fazendo a respiração para por um instante. Irrompeu ao banheiro após, pois ele também precisa atender àquele chamado citado supra. 

Uma mensagem no celular, logo às 6h50, de um sábado que, segundo a previsão deveria ser de sol pela manhã; a chuva viria à tarde. Imagina que vai chover em volume de verão o dia todo e em sem parar em volume de inverno. A corrida e a caminhada pelo Ibirapuera fora cancelada pelo novo amigo (com alguns benefícios) em razão da água caindo do céu. Sozinhos ou não, eles vão ao parque todo sábado, fazendo frio ou calor. Somente a chuva o faz deter.  

---- Bonitona do pai. Hoje não vai dar pra a gente sair. Nem pro parque, nem pro café. Tá vendo esta mensagem aqui, no celular do pai? Então, por causa da chuva, vamos ficar sem ver nossos amigos. Ele achou melhor não irmos. Ei! Pode parar de fazer esta cara de cachorro sem dono. Vem aqui, vem! Fofa do pai! Que pena, né? Amanhã eu prometo que levo você, viu lindona?

Ele a coloca na área de serviço, já com o gordo jornal em mãos. Ela entende tudo e o segue, como uma boa menina (e arteira) que é.

A chuva segue sem trégua e a energia ainda nada. Tomando o café no banco da cozinha, ele ainda absorto por ter acordado, segue pensando nos benefícios daquela amizade. Descalço, vestindo uma velha cueca tão somente, sorri ao pensar na nova amizade (sem mencionar os seguidos bocejos). A companheira inseparável de quatro parecendo entender a razão daquele sorriso, chega na cozinha observando-o. Que amor mais incomensurável um detinha pelo outro, desde três semanas de vida. Ela fica feliz em vê-lo feliz. Aninha-se no tapete ao lado dele, tão segura, mesmo que a chuva pela Pauliceia apertando sem medo e sem dó. 

Mais uma mensagem, ele vendo a chuva cair pela janela, o conforta. E o "beneficiário" convidado-os pra um almoço naquele restaurante vegano na Alameda Jaú. O estabelecimento, moderno como a cidade de São Paulo, tem um lugar para cachorros ficarem enquanto seus tutores se refestelam no festim de vegetais, grãos e todo o resto concernente. 

Ele está feliz. E cada gota que escorre com certo vagar pela janela o faz lembrar que está lhe fazendo bem ter esta paciência nesta nova amizade. os pingos vão escorrendo, devagar, devagar inundando a borda do grande vidro... Em uma atitude tão certeira que os desobriga ter pressa. 

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