domingo, 13 de dezembro de 2009

COM QUEM VOCÊ DORME?

AINDA A 'CURIOSIDADE' DAS PESSOAS
A pergunta parece sempre estar na mente das pessoas mesmo que não seja verbalizada, posta para fora, ela está ali, remoendo cérebros, intrigando pessoas e expondo – veladamente que seja – o preconceito dentro de si com relação ao outro.Estamos quase chegando na segunda década do século 21 e olhando para trás vemos como a humanidade avançou em tantas questões como a tecnológica, por exemplo. Esta, aliás, salta aos olhos não é mesmo? E pensar que no início dos anos 90 a grande rede nem existia; a questão ambiental parece que agora entrou de fato na agenda dos poderosos com a preocupação com o efeito estufa, redução da camada de ozônio, o desmatamento desenfreado (como uma paixão cruel às avessas da música), a coleta seletiva do lixo, o uso mais racional da água...Vê-se que a espécie humana anda inquieta com os rumos do planeta. Há avanços, claro. A conscientização de cada um de nós no que se refere ao espaço que vivemos e dividimos e à qualidade de vida são de fato de muito importantes.Mas para ser meio chatinho ainda existem “coisas” nas quais o ser humano parece engatinhar e mais, sem o desejo de levantar e ficar em pé.
Repito aqui a pergunta: com quem você dorme?Não deveria interessar a mais ninguém a não ser a você e ao (à) seu (sua) parceiro (a). Concorda? E se você dorme sozinho (como eu...) também não é do interesse de outrem.
Vivemos nós todos em uma das maiores aglomerações urbanas do mundo com mais de 11 milhões de habitantes concentrados somente na cidade de São Paulo. É gente indo para lá, gente indo para lá e chegando tarde em seus lares depois de exaustivos dias de trabalho. E apesar de vivermos aqui na Paulicéia Desvairada (que comete desvarios desde os modernistas de plantão) ainda existem pessoas que se preocupam com quem fulano (a) dorme.
Mas tem um agravante a esta mórbida curiosidade: se o seu parceiro (a) for do mesmo sexo que o seu, meu Deus do céu! “Que afronta aos bons costumes e à moral não é mesmo?”.
Homens e mulheres gays passam (deveria usar o verbo sofrer, o mais adequado, mas para não parecer um artigo panfletário...) todos os dias de sua vida recebendo olhares tortos, desconfiados, raivosos e tantos mais adjetivos havidos. Para deixar de citar a violência homofóbica expressa em muitas vezes por assassinatos e mutilação aqui mesmo em São Paulo que neste aspecto não difere em nada de outras metrópoles brasileiras.
E então vem à tona o título deste artigo: com quem você dorme?
Como se dormir com A ou B (tem gente que dorme com A e B ao mesmo tempo) fosse determinante de carácter. Ninguém é melhor que ninguém em razão de ser homossexual ou heterossexual.
Na verdade, à pergunta pode-se somar que os gays – homens e mulheres – deveriam procurar a aceitação da sociedade para poderem viver em paz e levar suas respectivas vidas com um tanto mais de dignidade. Discordo em gênero, número e grau.
Porque gays precisam da aceitação do outro para dormir com quem quer que seja? Ora, isto é um absurdo sem tamanho. Aceitar pressupõe permissão, pelo menos é o que parece leitor (a). Então gays devem obter permissão? E para você?
Para mim deve-se respeitar a vida de todo e qualquer ser humano, independente de sua orientação sexual, que por falar nisto, tem gente que insiste em repetir o refrão heterossexista “opção sexual”. É um erro que não é apenas semântico, mas um erro conceitual que implica imputar aos gays a decisão de terem “virado” gays ao longo da vida. Só pode ser piada não é mesmo? Respeito é o conceito chave. Claro que o ser humano é intrinsecamente preconceituoso, basta que olhemos para a história recente para que certifiquemo-nos: as mulheres penaram para conseguir um lugar ao sol; negros agora possuem leis que os protegem da “moral vigente”.
E aos gays? O que foi conseguido juridicamente? Ainda são tímidas as iniciativas que visam proteger estes cidadãos (sim, porque na hora de pagar impostos, votar, cumprir as leis não é perguntado com quem se dorme) e há um longo caminho a percorrer. O espaço para a homoafetividade neste Brasil globalizado precisa ser conquistado. Não é nada fácil, todos têm ciência do fato.
Sabem porque não é nada fácil? Porque as pessoas ainda se importam com quem você, leitor (a), dorme no aconchego do seu lar, seja na rua Frei Caneca, no Centro, nos Jardins, seja em Itaquera, ou ainda em Parelheiros.
Viver escondido e viver proibido de expressar seu amor soa como o livro 1984 em que o Grande Irmão vigia para que não se atentasse contra ‘a moral e os bons costumes’.
Enquanto dormir com alguém do mesmo sexo for um atentado contra esta moral heterossexista dominante, viveremos ainda como se estivéssemos lá na Idade Média, ou o que é pior, bem pior: viveremos como ainda gays vivem em países nos quais ser homossexual é passível de ser mutilado, espancado, torturado e morto (são aqueles que invocando interpretações bizarras justificam a matança em nome de Deus)
Ufa! Vivemos em São Paulo, a verdadeira capital da diversidade humana nestes confins sul-americanos que se não é a Meca para o estrato social representado pelos gays, é, sem dúvida, a cidade que possibilita meios de comunicação para que possamos discutir a questão da homoafetividade. Tomara que assim a gente consiga desmistificar esta “moral” e estes “bons costumes”.
(um adendo: nem todos heterossexuais se comportam como reza a cartilha da moral heterossexista e não se importam com quem gays dormem)

Um comentário:

heitor yassuda disse...

eu diria "condição" sexual e não opção, porque "condição" tem coerência genética ... ninguém "opta"por ter uma vida dificil, só Jó ...