Arquivo pessoal - Parque do Carmo/São Paulo |
a cidade séculos atrás se empreendeu
e para ele
é só existir que já começam a chamar você de tantos nomes
prenomes
sobrenomes
apelidos
até as crianças
tão infernais como adultos, putos, o são
pela escola
na cola no cotovelo com dor
mais nomes pelos quais você é chamado
mais tarde, puberdade,
com os hormônios à pele
a pele esburacada
que "mancada"!
pés grandes que tropeçam
cheiros pelo corpo onipresentes
e por mais que lhe peçam
e por mais que tente
desodorante
pelos molhados
pelos cabelos recônditos a povoar as partes debaixo
magro, palito,
baleia, gordo
físico franzino para a educação física
futebol e nada mais
viado (sapata para algumas das meninas)
cdf/nerd
mas também sobrava para cidade
para a Pauliceia
a desvairada maior de todas: modernista, antropofágica...
vieram então os:
cinza
fria (com todo o frio pelo amanhecer)
feia (porque, afinal, a beleza não é "fundamental?")
desumana pelos mihões de humanos que aqui habitam
selva de pedra pelo sem-fim número de prédios
e sobre aqueles que denotam carinho?
mesmo que sejam pouquinhos?
também existem porque existe ele
estes são ditos, sussurrados ao ouvido
na pista, na cama, no metrô, no sofá
em cima do esplendor do Martinelli, do Copan,
do Terraço Itália, do Mirante do Vale
de cima, vendo tudo, em cima de seus sonhos
(igual ao hipopótamo de Brás Cubas)
lembra e relembra da vida até aqui,
pelo amanhã que virá
pelos apelidos que teve, que ouviu
compadeceu-se por ele, por São Paulo
e então, superou-se, riu e voltou-se para o seu mundo
paulistano, na melhor cidade que pode existir
porque ele sabe que é ele que deve e pode fazer de São Paulo
sua casa e a casa de seus amores
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