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Tenho mesmo que equacionar minhas necessidades físicas e emocionais para que o resultado não seja um incógnita. Todas as vezes que eu me deixei levar o resultado ficou aquém do que esperava".
Pela vida que ele teve nestas quatro décadas nunca esteve tão tranquilo e despreocupado com relação a sentimentos que os outros podem ter dele, porque ele mesmo não nutre sentimento especial, direcionado, acalentado, por nenhum outro ser bípede que povoa a Terra; assim é.
Dentro das possibilidades ele vive muito bem, quedando-se longe das tais preocupações de afeto, de amor, de desejo sexual e da parafernália toda, como ele costuma sempre proferir em voz alta para que não se esqueça.
O que o preocupava é o fato de estar pensando tanto em sua vida de eremita, em sua vida solitária dentro do castelo inatingível que ele cuidadosamente construíra por estes últimos bons anos de intenso trabalho para esquecer aquilo tudo. Mas é possível esquecer?
Claro, ele bem sabe que a vida é furtiva, engana, faz esperar, aparece de supetão, tudo dentro das impossibilidades estatísticas que só mesmo a vida proporciona, daquelas certeiras e das impossíveis. Ele tem um refúgio seguro, uma fortaleza: seu castelo - o apartamento em que vive, companheiros Felino e Rex.
Lá permanece longe da problemática do amor, das amizades mais profundas e do questionamento humano, sejas quais forem. Verdade, há o Licínio e Maximiano, veterinário e funcionário público. São os dois humanos mais próximos, excluindo as possibilidades de fazer amigos no trabalho - que são impossibilidades, ele reitera -, e que já começam a se tornar trabalhosas estas relações de se levar adiante.
Acordar, cuidar do conselheiro real e do príncipe, trabalhar, voltar para casa, dormir. Neste meio tempo, ler, TV, música, passeios com o Rex, brincadeiras com eles dentro do castelo invencível: as possibilidades frequentes e que lhe dão prazer porque as controla inequivocadamente. Diante de outras possibilidades de estabelecer contactos, relação com o mundo, ele refuta.
"São as impossibilidades, eu creio. Hei de controlar o desejo de querer mais proximidade, que anda tão forte, parece mesmo uma gana e se eu ceder, tornar-me-ei um esganado sem fim. Foi tão capenga e foda da última vez que as possibilidades de abertura deste portão não deveriam existir... Até quando vou conseguir me manter imutável? Sei lá... Mas vou tentar. Repetir para quê? Aquele sofrimento todo? Improvável".
http://shadowness.com/jennieyuen/roman-figure-sketch
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