Arquivo pessoal - Bela Vista, São Paulo/SP |
"o vento, tanto vento que uiva pelas frestas das portas e janelas hermeticamente fechadas
(nem tão hermeticamente)
parece haver uma alcateia de lobos cinzentos que pastoreiam para comer uma presa
ou até mesmo o próprio pastor
ventania pelas frestas que o assusta tamanho é o poder de algo que não se vê
cheira-se, escuta-se, sente-se, tateia-se
pelo corpo desnudo, amarfanhado, largado pelo chão
após as horas de convívio que tira seu juízo
fá-lo perder o caminho de casa
(que perdição sem-fim)
fá-lo atrasar-se para a reunião
(se conseguir chegar)
o vento...
único companheiro depois da ida e saída...
pelos pés gelados aquele arrepio que percorre-o até a cabeça
e vem pelo vão do chão com a porta
lágrimas? hoje não, sequer as necessita
suspiros? não, o que tem é ainda a respiração ofegante
o cheiro de outro corpo em suas mãos e barba
(também em outros lugares)
esticado e preguiçoso de se levantar sente uma certa quentura no carpete
confortável de madeira escura
da novíssima casa restaurada, recém inaugurada por eles
marcaram território
tomaram para eles o tal lugar,
dominaram-na
mas o vento... Este não se pode dominar
nem aquele por debaixo da porta, nenhum
Para ele.. Basta se perder, desajuizar-se...".
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