Arq. pessoal - Teatro Municipal São Paulo |
Sem preocupação de nada, sentido-se bem é tranquilo, ali ficou por todo o tempo apenas vendo o movimento de pessoas perto e, ocasionalmente, mexendo no celular.
Em um dado momento, estralou alguns dedos apenas movendo para baixo. Pôde-se ouvir o barulho, verdade. Sem camisa, que estava envolta na cabeça - decerto para a proteção após a corrida pelo parque, todo o nada que o tal fazia continuou a ser feito.
E um que observava com atenção, achou que aquilo caracteriza um abuso, uma ousadia para com todos. Mentira: era uma ousadia para ele, porque fazer tudo isto de dia, postar-se assim dentro do carro, quase desnudo, os pés perdidos pelo ar... E a calça social dobrada até o joelho? Ora, tal cena tornar-se-ia inadmissível em qualquer lugar "civilizado desta cidade. Deste país!", pensou o ser coberto de inveja pela despreocupação do cara reclinado no banco dianteiro de seu carro.
Munido de sua civilidade e bons costumes regrados pela sua educação, foi lá... Ou melhor resolveu chegar mais perto, ficar por ali, fazer algum barulho, olhar feio, emfim algo que pudesse espantar o "dolce far niente" instalado em uma das saída do parque que dava para uma rua sem saída.
Eram quase 17h. Foi empedernido certo de sua vitória contra o mal-estar da civilização (julgava ser um freudiano; e o era, mas bem às avessas) encarnado por o homem que ainda balançava os grandes pés ao léu. Chegando lá foi surpreendido pelo tal ser, convidando-o a dividirem o cigarrinho artesanal com a pergunta feita em seguida:
---- Estava te olhando mesmo. Até achei que demorou para chegar aqui, ficou rodeando, olhando, encarando. Achei também, você interessante e quase fui falar com você. Mas estou com uma preguiça. A fim de fumar?
E sorriu exibindo um sorriso que o mundo deveria parar um pouco para ver, para contemplar.
O "civilizado ser" prestes a explodir pela ousadia estapeando sua cara, quedou-se estático por alguns segundos; em seguida estendeu a mão para quase pegar o cigarro. Quase.
Fora desarmado, virou as costas e "civilizadamente" amedrontado até o último pelo eriçado de seu corpo pela naturalidade do cara do carro, fugiu mesmo. Correu, mas olhou para trás duas vezes.
Para o que ficou tudo continuou do jeito que estava: calmaria, baforadas, balanços...
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