Arquivo pessoal - Vila Olímpia, São Paulo |
Então era o dia inteiro? No começo era mesmo. Com direito a variações no pranto: ora era um berreiro, nariz escorrendo, com soluços e perdas de fôlego - igual um menino -, ora se tornava um choro baixinho e doído. Aprendeu que mesmo o melhor amigo (nesta lista havia três) cansou-se de ser paciente e o evitava de encontrá-lo. Por que? Mas era um chororô só! O amigo se encheu e tentou uma mudança no discurso:
---- Você consegue. Pelo menos tem que tentar. Eu sei que você não consegue, ou não quer, mas mesmo assim, se esforce. Você está aqui, na minha frente, e eu preciso do meu amigo. Não o de antes, porque o que foi fica para trás. Preciso que se mova, que tente, que me ouça. ?Eu tenho também meus choros e desabafos. Entenda que eu entendo sua dor. Uma dor imensa. Só que a vida segue. Sabe por que? Por que ela seguirá com ou sem você.
Quando ouvia isto (várias vezes de mais de um amigo), ele tentava se curvar diante da vida que segue... Tudo em vão.
Ele continuava a chorar. A diferença é o que tal choro baixinho ganhara força e vez e o espetáculo do berreiro quedara-se no passado recente.
Parecia que os sentidos perderam a capacidade de sensibilidade ao mundo externo depois do abrupto corte. como ele ainda diz:
---- Tá osso.
Perguntou-se um sem número de vezes quando a dor, o desespero, a o choro iriam passar. Nunca soube precisar este tempo.
Hoje, depois desta fase "incurável", o choro se concentrava na solidão do apartamento, na solidão do banho e de vez em quando, muito de vez em quando, nos sonhos porque sempre sonhava algo bom, com risos e felicidades. Porém quando acordava... Chorava - baixinho - até dormir novamente ou até o relógio do telefone tocar.
"A vida segue. Mesmo que eu não queira, mesmo que eu me revolte, mesmo que eu continue a chorar por todos os dias da vida... A vida seguir é maior que eu, maior que minha vontade". Suspiros e soluços sem soluções.
Levantava-se e ainda com os olhos molhados, iniciava os afazeres de sua vida... Que deveria seguir.
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