Arquivo pessoal - Av. Paulista/SP |
da cidade ele quer a urbanidade alfa de São Paulo;
do inverno ele quer a cama quente
o aconchego do corpo ao lado, esparramado junto ao seu;
do verão ele quer pernas de fora,
suores à mostra vertidos pelas recônditas partes;
do ar invisível ele quer os odores sumarentos, suculentos;
da pornografia ele quer o gozo;
do amor ele quer a perseverança;
da comédia ele quer a falta de ar,
o riso incontido e infantil;
do dinheiro ele quer a soberania sem rebeldia;
do sangue no Mustang, ele quer o vento na cara;
do vento na cara no Jaraguá, ele quer a vista por toda a Piratininga;
de São Paulo ele que o topo do Mirante do Vale a 170 metros,
de São Paulo ele quer as artérias cheias, pulsantes;
da metrópole ele quer as opções 1000,
os lanches da madrugada, os pardieiros, e o refinamento (tudo a sua hora);
dos subterrâneos ele quer o metrô cavoucando a terra
do Jaçanã a Parelheiros, do Itaim ao Jaguaré;
da moradia ele quer o quarto quieto, de cama desarrumada,
do quarto ele quer aquela companhia solitária;
da maçã mordida ele quer o barulho arrancando um pedaço;
das comidas ele quer a madrugada de domingo para encher a pança,
em São Paulo 24h;
do chocolate ele quer o mais doce e derretido,
e comer igual a um menino: ávido em um sem fim de sabores
da sede ele quer o copo cheio de gelo a derreter;
da sociedade ele quer o anonimato puro,
da sociedade ele quer a tolerância exercitada;
das companhias ele quer o riso fácil dos amigos para sempre,
dos amigos para a vida ele quer que sejam poucos;
das ruas ele quer os quadris febris,
da febre ele quer o seu "poço de petróleo" a jorrar;
dos dias que se seguem ele quer a ininterrupção até quando o azul decidir;
do azul ele quer a negro céu a chover embalando sono e sonhos;
da manhã o dourado rei a espalhar sua luz interplanetária;
das manhãs eretas a ida corrida ao banheiro;
do tempo de despertar ele quer o café preto, puro, amargo
que excita, que restabelece e que aviva;
do tempo de despertar ele quer o sorriso do seu amor,
ele quer a primeira vista do dia;
da tempestade ele quer trovões ao longe e a nesga de luz do raio,
impávido, conflitante e rápido;
da semana ele quer a sexta à tarde,
e do tempo ele quer alguém que o queira inteiro pelo tempo que for;
de sua vida ele quer ajuda sincera, companheirismo e lealdade;
e dele ele quer a sinceridade, a dignidade e o incontido desejo de amar...
no quarto escuro, à luz do sol, antes, durante e depois.
Deitado em um dia qualquer, pelo fim de tarde, ele pensa nestes tantos quereres que ele tem e quando todos aconteceriam em sua vida. Um ou outro já experimentou, outros quase e alguns jamais. Tem certo que, talvez, viva mais por mais uns anos somente e que então nada de novo acontecerá. Vira-se e pega o copo pela metade de uísque escocês e toma em uma talagada só. Nem careta faz. Fecha os olhos e sente o corpo amortecer.
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