Arquivo pessoal - Leonardo: estudo do paraquedas |
dizendo que ouviram rangidos atrás da velha porta
você roçando em outro alguém,
rudes e ríspidas esfregadas
ri na hora, ri muito na hora
e remendando arremedei-os com ironia
rápido afastei-me, praticamente roto,
quase esfarrapado o rumo perdi por um instante
no outro, refiz-me e fui para casa
ali perto, reto a 40 metros,
rasguei o comprovante dos itens pelo caminho,
e tentando descrer na tal prova trazida com ligeireza,
tropecei na calçada em reforma
pensei "reformado deveria ser eu"
ralei a palma da mão, a esquerda, a do anel,
e esparramei as compras pelo chão barrento
rumores...
rumores...
ribombando,
ricochetando,
amarrado senti-me àquela voz rangida que me contara
parecia que meu cérebro não se desataria nunca
carreguei minha raiva para o coração
rememorei, recordei, e então chorei
mandaram-me em seguida, saturada em preto e branco,
três fotos retangulares: estranhei... Que trama seria esta?
parei com os soluços a atenção prestei
poderia não ser você e seria uma solução...
esperei, mas os rumores ainda ouvia dentro de mim
esperei você voltar até as 3 horas,
na fria madrugada, abril, da nossa cidade desvairada: São Paulo
ela parecia maior e maior àquela noite
demora, como você demorava,
avisou-me que pela Rebouças o trânsito fora desviado
"um acidente com quatro carros, parece feio", escrevera-me
pensei, em um turbilhão, "ainda bem que não havia um 5º carro"
solitariamente continuei a espera
crivei-me de paciência
quando a chave tetra você destravou, que vinha da rua
correu e abraçou-me sofregamente, apertando-me
"não era eu nas fotos, é tudo mentira, já sei porque me contaram",
choramos alguns minutos, abraçados, atarracados
um ao outro
então, examinei, olhei, reenviamos ao pc,
percorremos a foto de cima a baixo,
de cabo a rabo,
e... não era meu amor; não era!
armaram e se arvoraram no direito de tentarem trair-nos
traição mútua é o que queriam,
sugeriram, em revide meu, fazer o mesmo
porém nem tive tempo para pensar nisto
tamanho foi o pranto e tamanho maior foi o abraço que me sufocou
então, na rua Rafael de Barros, Paraíso,
na metrópole em desvario rotundo sempre: São Paulo
reinaram... depois de toda esta história...
os imperadores da paz, da serena paz.