um cafe, lá pelas tantas
andanças pela casa, sem parar, na madrugada
que se arrastava, lenta feito tartaruga cansada na praia
depois de enterrar os ovos
sozinho, depois da tentativa de ser "a 2",
pensava melhor em tudo
pé direito descalço
cigarro na mão esquerda
o esquerdo de meia
a direita queimada na ponta
corpo moído
relógio da cozinha que batia
tic-tac, mais tic-tac
no calor de janeiro
abafado, quente
de repente ouviu trovejadas ao longe
que vinha, ele achou, da Cantareira
"deve chover a cântaros", pensou
apagou as fotos
exclui do face
parou de seguir no instagram
mas nem mesmo isto consertava o corte
coração cortado ao meio
tensão nele que parecia estar sufocado
dado momento abriu a janela da sacada
perfume de dama-da-noite
o vento ventando,
encheu suas narinas
olhou as luzes, milhares
milhões delas
pontos de janela acesos
volta pelo território
nova volta e meia pela casa
desnudo e suado
sem o banho da madrugada
caminhou na sacada
meia suja então
última baforada
fumaça nos olhos
o vento... "Que vento é este"
uivava pelas frestas
assim que entrou, ouviu o tiro
um tiro no meio da madrugada paulistana
vindo da de onde o sol nasce,
vinha da onde sol nasce: Ipiranga, Mooca, algo destas bandas
mas perto, bem perto
parou tudo
respiração, andar, nem beber, nada
e o tiro foi um só
e pronto, lá estava o corpo no asfalto,
sangrando... A chuva chovia àquela hora sem medo,
sem dó
foi só o que conseguiu ouvir antes das águas de janeiro
pelo meio do verão:
um tiro no meio da madrugada
Nenhum comentário:
Postar um comentário