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Depois ela não parece, ela é.
De tristeza mesmo é quando acaba. Quando você esgotou seus traficantes, quando eles não atendem o telefone e quando não há um lugar só para ir (no começo você ainda tem vontade de sair, passear, ir a lugares, entrar nestes lugares; tudo muda depois).
Bom mesmo quando era aos montes mesmo. Literalmente aos montes.
Lembro bem, de quase todas as noites e alguns dias também (que não foram tão raros) que fiquei na função em cima do prato, do cd, do 'manuel', da carteira, da mesa de vidro, do espelho, da gilete, do cartão.
Das notas enroladas improvisadas das canetas bic que sempre perdia-se a carga em seguida. Cigarros e mais cigarros. Falas e mais falas - a grande maioria esmagadora de mentiras em cima de mentiras que se provavam como tais, logo passasse a sensação, ops, o efeito do pó aspirado.
Horas muitas sem dormir catando sei lá o quê, procurando, tentando uma diversão que nem eu sabia qual exatamente. Quando eu tinha $, e eu sempre tinha por conta do meu trabalho de viver de renda e herança deixadas pelos meus pais que se mataram, era melhor e mais fácil de arrumar gente para ficar junto e também para mandar embora quando eu ficava com aquela sensação de paranoia, de me trancar. O lance da paranoia veio no fim já, perto deste fim de vida, do contrário eu nem estaria escrevendo as linhas de agora porque eu ainda andaria pelo começo da adicção de anos.
E porque?
Bem, primeiro devo falar que comecei tarde até, tinha meus 27 anos; mas devo confessar também que compensei o tempo perdido me enfronhando na cocaína praticamente sem parar por todos estes anos. Tenho 40, quase 41, com 13 anos, quase 14, levando a vida que eu não sabia que um dia eu ia querer.
Porque eu quis. Simples assim. Primeiro porque eu quis, ninguém me obrigou a nada, não enfiaram nada em meu nariz forçadamente. Não. Ninguém me influenciou. Não. Houve estímulos, isto sim.
Mas fiz tudo o que fiz porque eu assim queria, assim desejava.
Depois, vem claro, as companhias que podem estimular o uso do pó branco. Porque às vezes, eu precisava só de um estímulo para comprar mais, um empurrãozinho para que minha consciência não ficasse me cobrando que eu tornara-me um viciado que sempre queria mais e mais. Nestes momentos, a companhia deveria ter o mesmo nível de vício que eu, melhor quando era ainda mais forte que o meu. Porque eu me sentia bem e pensava que eu poderia parar quando quisesse.
Eu não parei nunca. Nem agora. Nem com os meus dedos travados. Nem com meus olhos cansados de enxergar. Nem com meus músculos carregados de ácido láctico. Nem com meu maxilar travado.
Estou aqui, de manhã, vendo a cidade de perto. Sacada do 30º andar. COPAN. Tomando coragem para ir olhar para baixo.
O vento de outono.
Porque? Eu realmente não sei. Só tenho a vontade.
http://deaddictioncentres.in/news/cocaine-use-abuse-addiction-treatment-guide/attachment/cocaine-2/
Eu não parei nunca. Nem agora. Nem com os meus dedos travados. Nem com meus olhos cansados de enxergar. Nem com meus músculos carregados de ácido láctico. Nem com meu maxilar travado.
Estou aqui, de manhã, vendo a cidade de perto. Sacada do 30º andar. COPAN. Tomando coragem para ir olhar para baixo.
O vento de outono.
Porque? Eu realmente não sei. Só tenho a vontade.
http://deaddictioncentres.in/news/cocaine-use-abuse-addiction-treatment-guide/attachment/cocaine-2/
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