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Os caras de lá, bem de longe, em algum extremo distante daqui, são como lágrimas
a escorrer pelos cantos dos olhos
salgando toda a face, que um dia, já foi beijada, lambida. Amou-se o corpo e a mente e as qualidades e os defeitos.
Hoje, pedem com a voz rouca de gritarem por tantas vezes, por um pouco de sossego
sem que isto atrapalhe o sossego de outros poderosos
e fanáticos por qualquer motivo que seja.
Os caras daqui não se preocupam muito com os caras de lá.
Nem poderiam porque afinal, cada um deve cuidar de si mesmo. E porque aqui, como acolá, ou lá, nada é muito fácil.
Os caras de lá não exercem seus direitos porque nem ao menos eles os têm.
E não têm porque a eles palavras são jogadas com a desculpa de se estar realizando o correto, o que deve ser aceito sem pios.
E qual é o correto?
Bem, o correto é o que lhe diz sua consciência aliada a empatia pela dor que o outro pode ter. Retidão de carácter é um amálgama disto.
Um humanista verdadeiro se importa com todos os caras. Do mundo todo.
Resolver-se-á o problema com esta preocupação? Por certo que é pouco, mas é algo palpável sim.
Saber que do lado de cá, ou do lado de lá, existe alguém que se compadece de sua aflição deve ser um motivo de...
Vitória.
Não a uma vitória de Pirro.
Não uma vitória contra o carrapato, que para matá-lo, mata-se o boi.
("todo mundo é parecido quando sente dor")
Os caras de lá são cidadãos de 3ª classe.
Nem o amor contido neles pode vencer uma vida de aflição, de preocupação, uma vida de "sempre ter que estar alerta contra tudo e contra todos".
Assim não se vive. Assim se sobrevive tão-somente, beirando o abismo sem fundo. Ali, estão na corda bamba que liga o outro ponto do lado de lá do abismo: a felicidade.
Equilibrando-se de maneira tenaz para não caírem.
Alguns caem - indefectivelmente caem.
E são esquecidos no limbo da memória dos outros.
Estes caras já se foram. E foram derrubados ao balançarem a corda em ambos os extremos.
Só para lhes tirar a chance - vejam bem, a chance: não a certeza - de poderem ser felizes.
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