INDEFESOS
0h41m de hoje.
31 anos, 1 mês e 8 dias.
26 anos e 8 meses.
"À cidade e ao mundo", em latim. Urbi et Orbi é jornalismo literário tratando de questões que atingem conceitos formados quais forem e livre de pensamentos únicos. Realidade e ficção juntas: contos, crônicas e informação. Escrevo de São Paulo, a grande metrópole brasileira. É também um espaço dedicado à paixão pelo idioma português.
"REVERSÃO À LUZ DO DIA"
Mercado editorial no Brasil é foda. Para um país em que a maioria dos 192 milhões de habitantes leem apenas 1,2 livro por ano e que tem tiragem de jornais chegando nem a 6 milhões de exemplares/dia vê-se então quão foda é publicar algo nestas plagas. Aos escritores amadores como eu resta a world web...
Posto aqui um trecho do segundo conto que escrevi nesta nova série. Escolhi uma parte em que descrevo o cachorro do personagem, um boxer lindão de morrer, e a casa do dito. O conto para quem quiser saber mais é só entrar em contacto via email/ comentário que mando.
Valeu a atenção.
"O sobrado, tão comum na Aclimação, habitado por ele refletia com simplicidade seu dom às avessas em deixar objetos revirados que tomavam a casa toda: o térreo e o 1º andar. Embaixo, no quintal até que grande, sempre muito bagunçado, com um pedaço de terra, ficava seu companheiro de solidão: o Diesel, um boxer babão e adorável, todo marrom com a barriga branca, de 3 anos de idade. Altura boa e, como ele o definia, um magro sarado. O cão, que ganhara com 40 dias, latia freneticamente toda vez que ele chegava a casa, mesmo que tivesse se ausentado por pouco tempo para comprar cigarro na padaria da esquina. Rabo cortado e orelhas não cortadas caindo em sua cara conferiam um ar simpático, alegre ao Diesel, de um estar bem com a vida. O focinho bem preto, as bochechas caídas e os olhos esbugalhados evocavam alegria.
Mas safado que era (ora, que dúvida), usava esta cara doce e sem-vergonha para escapar de possíveis retaliações, como aquela vez que comeu o pé de cannabis que merecia todo o cuidado. A planta já estava com quase 1 metro de altura de um tom de verde bem bonito e característico. Quando ele chegou e foi brincar com o ser canino viu o que acontecera, olhou feio e ralhou com Diesel. Este por sua vez, todo amuado, deitou-se abanando o toco de rabo que tinha, com cara de judiação... Os olhos saltados fitando para cima. Ficar bravo? Só por alguns instantes...
Quando ele vinha todo contente ao seu encontro, rebolando daquele jeito que só boxer faz, com aquela cara doce e feliz, seu dono pensava como era bom morar junto daquele cachorro.
Perdera algumas mudas de árvores porque o Diesel as comera todas e muitas vezes durante muito tempo. Restaram depois da devastação canina uma laranjeira das bem perfumadas, que dava frutos quase o ano todo, e uma romãzeira. Na verdade, nem comia romã... Achava bonita as flores e as cores da fruta; e incomum, mesmo que tivesse um tanto de trabalho em mantê-la livre daqueles insetos pequenos. Quanto às laranjas-peras o trato era bem fácil. E saboroso. Na primavera, um casal de sabiás,
Chegara ao lar um tanto introspectivo sem estar triste. Pensativo. Por alguns instantes, porque o ser de 4 patas o fazia desviar atenção em qualquer coisa que fosse.
QUEM ANDA MOVENDO O BRASIL?
Quem são os verdadeiros herois de um país? De uma geração? De um ser humano?
Quem ganha R$ 1 milhão por mês ou quem sobrevive com uns R$ 500 e poucos? Aquele que engorda conta de empresários, de clubes sejam quais forem e agregam multidões em estádios e que, por vezes, são motivos de vingança contra rivais “imaginários”? São eles?
Aí eu pergunto: e a professora do interior de Sergipe lá no sertão da caatinga que tem que andar quilômetros para dar aula em uma sala de aula de pau a pique com pouca ventilação e podendo estar infestada de insetos que atormentam a existência humana...? Ou o operário que mora em São Paulo, acorda às 4h da manhã, pega trem, metrô e ônibus demorando no percurso 3h para ir mais 3h para voltar e que anda espremido como sardinha...?
Quem merece o título de herói?
Claro que é o cara do R$ 1 milhão. Afinal, ele move tanta grana e enche as burras dele e de alguns outros vários por toda a vida. É, e é assim mesmo.
Porque à professora de Sergipe move o que não é mesmo? Ora, move a mente de crianças e isto, de imediato como o capitalismo selvagem venera, não traz dinheiro algum a ninguém não é mesmo?
Porque ao operário paulistano move o que não é mesmo? Ora, move suas mãos calejadas para produzir algo que ele mesmo como grande probabilidade não poderá comprar; ele até que movimenta dinheiro que, entretanto, não reverte ao seu bolso.
Deveria causar espanto e estranheza, mesmo repulsa, mas a verdade é bem esta. Mais vale um cara entre 4 linhas de um gramado ganhando milhões por ano que milhões de professoras e operários que labutam incessantemente para mover algo que não é dinheiro.