quarta-feira, 30 de novembro de 2016

VIAGEM CCCXV - ESPERE E SINTA

Arquivo pessoal, Vila Olímpia/São Paulo
Arrefeça-se

resfrie-se

depois então converse

seja quase gélido

talvez melífluo

dulcíssimo,

raucíssono de tom grave

se assim precisar

escorra por toda a superfície

pingue em gotas espaçadas

pequenas

uma atrás da outra

por vezes, cale-se

permaneça de boca fechada

em discussões de latim que não vale ser gasto

de outras... lamba

suores, pelos, superfície,

reentrâncias e protuberâncias

sua língua igual por toda a superfície

aprofunde-se pelo céu-da boca

pela outra língua, pelos lábios

acalme-se, tente ao menos,

para ver a reação,

ouvir a respiração

o ruído da batedeira do coração...

e então arrefeça

sossegue e... espere por um movimento 

porque virá...

terça-feira, 29 de novembro de 2016

PIB DOS ESTADOS

Arquivo pessoal, São Paulo
Dados do IBGE para 2014, apresentados em novembro de 2016.
Para mais informações basta acessar: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv98881.pdf



UF  PIB R$ bi  renda      %
1 SP 1.858.196 42.198 32,2
2 RJ 671.077 40.767 11,6
3 MG 516.634 24.917 8,9
4 RS 357.816 31.927 6,2
5 PR 348.084 31.411 6,0
6 SC 242.553 36.056 4,2
7 BA 223.930 14.804 3,9
8 DF 197.432 69.217 3,4
9 GO 165.015 25.297 2,9
10 PE 155.143 16.722 2,7
ES 128.784 33.149
CE 126.054 14.255
PA 124.585 15.431
MT 101.235 31.397
AM 86.669 22.373
MS 78.950 30.138
MA 76.842 11.216
RN 54.023 15.849
PB 52.936 13.422
AL 40.975 12.335
PI 37.723 11.808
SE 37.472 16.883
RO 34.031 19.463
TO 26.189 17.496
AC 13.459 17.034
AP 13.400 17.845
RR 9.744 19.608
N 308.077 17.879
NE 805.099 14.329
SE 3.174.691 37.299
948.454 32.687
CO 542.632 35.653
5.778.953 28.500

sábado, 26 de novembro de 2016

VIAGEM CCCXIV - O PORTA-VOZ DE SI MESMO

Arquivo pessoal - Vista do Centro de Piracicaba/SP
respire e pause um tantinho

perceba a frente, os lados


ande e caminhe

apressa-se

passo após passo

lute a luta diária

da vida

faça o seu

sangre se precisar

lute de novo

e sempre
e sangrará sempre

segue

não pare

porque não adianta 

e para nada presta parar

ajude-se
porque poderá ajudar outros

respira com profundidade
inspira todo o ar e aí sim expire

emanando energia feroz

olhos retos
nem acima tampouco abaixo

de altivez
honradez

obstáculos e vícios
transponha-os e supere-os

viva a cada 24 h
o passado servirá de arquivo,
porém não se perca do futuro

respire, realize, adiante-se
sem o medo atroz

sem o passo cambaleante
você é o seu porta-voz

de tom claro, grave e seguro

e ninguém mais

terça-feira, 22 de novembro de 2016

VIAGEM CCCXIII - LEVE E BRUTO

Arquivo pessoal - Viaduto 9 de Julho, São Paulo

aquela força bruta que cansa, exaure, estremece e faz os joelhos quase arquearem?
gotas que escorrem pela face, pelo corpo, 
pelas reentrâncias e protuberâncias molhando-as 
e que exalam aquele cheiro de brutalidade?

um poder suave, um toque que desliza, eriça pelos das escondidas partes
e que faz a boca encher-se d'água? 
pelas pontas de suas digitais tão únicas entre os 7 bilhões, derreter-me-ei à leveza,
encostarei meu corpo ao seu em um movimento firme, porém calculado?

um apertado abraço, daqueles de sufocar, de sentir corações em disparada,
duradouro em minutos de solidão a 2 e que desperta o sangue?
um abraço que se chega tímido e aos poucos se entrelaça em corpos desnudos,
que vigiam as reações para não cometerem algo de errado?

todas estas sensações, todos estes toques, dos leves ao brutos,
daqueles premeditados aos descompassados
fazem parte de uma parte que desoladamente solitária, na qual desconheço
porque tais fatos e acontecimentos distantes permanecem

"e tem jeito de descobrir", pergunto quase toda manhã e quando não é nas manhãs
persegue-me pela noite, pela madrugada pacífica na metrópole São Paulo...
renovo-me a cada dia e atento sempre estou
mesmo que a timidez e o medo da leveza e da brutalidade me faça solitário

é uma ineficácia sem tamanho esta paralisia... 
para todo o resto eu vou bem (na maior parte das vezes)

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

61] CENÁRIO SP - TROPEÇOS E TRAMBIQUES NA MOOCA

Arquivo pessoal - São Paulo
Tropeços e trambiques: aprendera tanto um como o outro na infância (e ao longo da vida o segundo) ainda naquela Mooca dos anos 70 que parecia guardar - parecia - semelhanças com o bairro que atraiu tantos imigrantes, italianos em especial. Mas isto acontecera no século passado, ou até no fim do século XIX.

Da família que nascera, até hoje havia parentes que moravam por lá. E alguns destes nas mesmas casas, falando o legítimo mooquês bello, gesticulando à italiana, expressando em palavras catadas pelos dialetos da Velha Bota: napolitano, veneziano, siciliano e outros.

Ele se mudara na virada dos 20 para os 30. Não sabia ao certo em que ano fora. Agora, tinha apartamento na Vila Mariana, no ponto mais próximo desta daquele de onde parara tropeçando e realizando trambiques durante a infância e adolescência. 

Se São Paulo tivesse limites internos fronteiriços, ele diria que morar no Centro-sul-leste. E existe tal região geográfica? Bem, para ele sim. Afinal, situar-se no primeiro bairro da zona sul, perto do Centro e ainda ter um rabicho de limite ali na Mooca... "É o quê, belo?", respondendo com outra pergunta. 

Os negócios espalhados pela cidade auferiam lucros mesmo em anos de crise. Implacável, sem medo e sem dó. Histórias mal contadas, e as bem contadas também, não o demoviam de cobrar e exigir sua parcela. Repetindo: sem medo e sem dó. E com muito prazer. Porque desejava ser rico e poder viajar 3x por ano pra fora e comprar imóveis em algumas cidade do Brasil; na verdade, almejava mesmo uma fazenda lá em Mato Grosso do Sul e ter um jatinho para poder se deslocar até lá. E claro que um helicóptero para se movimentar pela cidade de São Paulo e evitar o trânsito nos horários de pico nas artérias paulistanas. Gostava mais deste último e para poder voar pelo céu paulistano.

Importante ressaltar que, à época do escrito acima, ele estava ascendendo rapidamente no setor de negócios que ele criara sem praticamente ajuda de ninguém. O contrabando de quinquilharias vinda de um país vizinho rendia bem. Mas ele queria mais, muito mais. Os trambiques continuavam a dar certo atingindo metas sempre maiores mês após mês. 

Para tanto e para mais que viria no futuro, o escritório dos trambiques mil, situado na Mooca, de arquitetura discreta, tinha cerca de 30 funcionários e trabalhava sem parar de segunda a sábado. Mercadorias de todos os tamanhos e de preços variáveis agradavam à perfeição a clientela formada por negociantes menores. 

Resume-se que na arte de realizar os trambiques ele conseguira um feito e tanto: sucesso, mesmo depois da meta dobrada de queda no PIB. Já no quesito afetividade, vivia aos tropeços e só não era aos trancos e barrancos porque há muito que não "barranqueava" ninguém. E quando tentava, timida ou ousadamente, era uma verdadeira derrota sem fim: tropeçava e caia feito mamão podre de maduro. Poderíamos dizer que o tropeço era cinematográfico.

Continuava tentando, sempre com esperança renovada. Mas era bom mesmo na arte da "trambicagem". 

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

VIAGEM CCCXII - DESGOVERNADO E PORNOGRÁFICO

Arquivo pessoal/São Paulo
Escreveu mais um daqueles desejos que queria para ele, para a sua vida. Desejo distante...?

"na supremacia da loucura é só mesmo perdição que se encontra; descaminhos, desvios, sol ardente, bolhas nos pés, carro desgovernado, trem descarrilado.

acontece de um dia para o outro e o juízo vai para o fundo de um buraco sem fundo, negro; desce pelo ralo e povoa águas sujas pela contaminação emocional.


e aí é o tal desgoverno sem oposição, sem poder qualquer outro que possa fazer um remendo ou mesmo um arremedo de força oposta; nada disto.


um desgoverno desafinado. Aquela voz trêmula, olhos que marejam e o agudo alternando com o grave em tessituras que rasgam o ouvido... 

tudo isto com aquele suor nas mãos, calor pelo corpo, extremidades frias; arrepios, frêmitos de frenesi. Pegam-se sem demora. Em compasso de espera? Nada, tudo descompassado, sem ritmo melodioso; mas melado/suado sim.

e o porquê? Tantas palavras poderiam estar escritas aqui? Mais ainda razões devem ser expostas, feito artistas pornográficos em filmes sem pé nem cabeça, mas com muitas outras partes explícitas? Afagos rudes, arfar curto, palavras que beiram à secura pornográfica... Tudo feito de amor entre eles. 

É isto mesmo, ambos são amantes que o amor domina e explora meios sub-reptícios de conquistas; porque neles a supremacia é pornográfica: se dão, doam-se, exploram-se mutuamente.

um desgoverno total e irremediável.
um remédio para a vida toda. 
um desgoverno pornográfico.
Uma pornografia sem eira nem beira".

sábado, 5 de novembro de 2016

VIAGEM CCCXI - O TEMPO MANDA

Arq. pessoal - passarela sob a rua da Consolação/SP

Nestes tempos de tempo pouco, ele bem se casa comigo com acerto inequívoco. Devo morrer tão logo acabe um sonho de um tempo em que ainda eu sonhava que tudo daria certo.
Pouco deu certo? Bem, o que afirmo é que muito deu... No que deu até agora.

Neste novembro louco fora do tempo de frio, ele tem nuanças de inverno em uma primavera que parece que não tem dado lá muito certo.
Que tempo insano, desatinado e desabrido em cinza nublado que cai sobre a cidade que eu amo, que me seduz. Talvez não tinha ido embora deste tempo pelo tempo que São Paulo ainda me dá: o tempo de caminhar debaixo de chuva de verão. E da garoa.

Ah, esta tal garoa: fina, quase invisível, tida como inofensiva. 
Que nada!
Ela molha, encharca você e traz a umidade que pode mofar tanto.
Só eu não crio mofo. Poderia bem criar aquele musgo carregado de esporos pelo ar pronto para que eu os inale para atingir os alvéolos, só pra criar um gato ronronando dentro do meu peito.

Todo o tempo do mundo?O que é isto? O tempo de dar a volta pela linha do equador?
O tempo para que o câncer seja jogado nas doenças vencidas pelo bicho sapiens?
O tempo de pensar, refletir, desculpar-se, do auto perdão?
Que tempo é este? 

Quisera eu saber... 
Mas acho que nunca saberei nada vezes nada.
Sigo então do jeito que o tempo me deu ainda por alguns anos. Bem que poderiam ser - os tais anos - décadas. Aí paro e penso: por que ainda desejo tantas décadas se tudo deu no que deu sem que eu conseguisse dar uma contribuição para curar, ou ao menos para refrear, os desmandos, a arrogância, a vaidade, o pão-durismo, a empatia.

Empatia. Longe foi o tempo que me esforçava. Sobrou mesmo este pouco tempo que ainda detenho para um controle (?) mínimo do caminho que tenho.

Dor pelo passar do tempo? Nem penso nisto porque o tempo é assim, feito um novelo que vai se desfazendo da grande bola e que diminuindo, diminuindo até chegar ao fim. nem serei lembrado findadas algumas décadas. Por que? Porque o tempo assim quer, assim deseja e assim manda.