sexta-feira, 30 de setembro de 2016

VIAGEM CCCVI - VOLÁTIL/VOLTAGEM/VELOCIDADE

Arquivo pessoal

volatilidade, entendeu?
vo-la-ti-li-da-de, assim você mostrava o que sentia (dizia sentir...?).

voltagem?
de dar choque? de fazer funcionar?

220w? Longe, mal chega aos 2w e quando liga, que mais parece uma linha ocupada... 
Tu-tu-tu... Comecei a desligar o 'aparelho'.

verdade! Eu devo ter me enganado.
vi, vim e não venci; bem que tentei. 

velocidade? A mais ligeira que possa existir.
vespas não balançariam as asas mais rapidamente

em um voo vasto, 
veloz,

vou pra longe, tão longe que mesmos as medidas em anos-luz será ínfima
e vultos parecer-se-ão com pessoas pela estrada

vislumbre apenas de vê-las
vislumbre hoje do amor que tinha

ah, e eu tentei, me insurgi contra tantos
contra o mundo, contra os amigos

transgredi meu parâmetros sociais
permiti-me a novos parâmetros sexuais

prazeres vieram, redobraram-se pelo seu sorriso
pelo seu ar de satisfação

pelo seu ressonar ao meu lado
pela sua satisfação...

seguirei em diante sem você e sempre adiante
porque por sobrevivência o tempo cada vez se esgota

e esgotei-me tentativas frustradas
vãs, fantasmagóricas e... Tristes...

já comecei meu caminho sem trilha determinada a quem
somente a mim

VIAGEM CCCV - NEGOCIAÇÃO COM O TEMPO

Saudade dos 20 anos?

Saudade dos 30 anos?

E dos 40? Talvez dos 50?

Que idade eu tenho, então, agora?

Opa, já passei dos 80... E no que me tornei neste nova década, aos 79...?

Desinteressado por tantas coisas e pessoas que antes me prendiam a atenção.

No coração? Sim, nele mesmo.

Mas na cabeça, no raciocínio que antes tão melífluo, 

hoje é seco, pragmático

E por vezes metódico. Mas não é melancólico.

Se pudesse voltar? Impossível!

Mas se pudesse... Bem, voltaria aos meus 30 anos e em seguida pularia para os 50.

Por que? Olha, os 40 foram ruins e amargos. Sem dinheiro, sem eira nem beira.

Ei! sabe o que me ocorreu? Posso negociar voltar aos 40 para melhorar esta imagem real

de amargura e penúria?

Não né? Sabia. E voltar aos 50? Veja, nem peço pelos 30! 20 então sequer passou...

Passou sim, é verdade. Porém, ficaria bem com os 30. Muito bem.

E tenho uma barganha. Talvez, se meu ouvir, poderemos barganhar com todos os lados

Satisfeitos e com justiça. Posso falar?

Faça-me voltar aos 40... Ok, nem precisa fazer cara feia. Volto aos 50.

Fico por mais uns 5/6 anos. Nada mais. E a barganha é que podem me levar findado este período.

Sim, ganharia 29 anos e por outro lado, viveria mais 6 apenas. Acho bem justo para todos.

Porque preciso refazer tanta coisa e também viver melhor comigo mesmo, sem as 

sabotagens auto-impingidas que me atrapalharam - e atrapalham - até na velhice.

Medo de morrer não é. Medo de ficar velho não é: eu já sou este idoso. Negociamos e 

você me leva depois de mais de 5 anos. 

Vou embora para onde for que determinarem. É justo sim.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

VIAGEM CCCIV - A FARINHA, A RESSACA E O CORPO

Arquivo pessoal - Centro, São Paulo
Seria um dia daqueles. Quais dias? Bem, daqueles que se começavam mal a chance de terminarem mal - piorar - tornava-se grande e bem provável. 

Um recado em uma de suas mídias sociais havia amargado o dia, igual as carreiras e cocaína que inalara durante o sábado todo; aliás, fora uma verdadeira orgia regada a farinha, uísque e... Bem, sexo meio forçado para as partes, mas este veio com arrependimento tão eficaz que esta era a pior ressaca.

Ressaca! Fazia tudo piorar e fazia o arrependimento também aumentar na mesma proporção: pelo dinheiro gasto - e que não foi pouco -, pela saúde avariada por uns dias e pelos inúmeros cigarros consumidos durante a maratona branca feita com desconhecidos. 

O tal recado, mandado por mensagem privativa, foi uma medida eficaz para que ele se relembrasse dos atos cometidos na noite da farinha muito louca. Nunca havia... Ops, ou melhor, havia tempos que não comprava uma tão boa como a de ontem. Teria valido cada grama consumida, portanto?

Nariz entupido, garganta raspando e a ressaca do cigarro. Parecia que ele arrotava fumaça. Mas voltando ao recado. Quando terminou pensou em ser uma brincadeira daquelas de muito mau gosto. Tentou relativizar o que lera. Olhou em volta e viu o quarto arrumado e limpo, sem nada fora do lugar, a não ser o tubo, o primeiro de vários, de pó jogado displicentemente em cima da escrivaninha. Olhou melhor e viu que ainda continha um tanto de farinha e imediatamente se inquietou.

Consumiu sem pensar  duas vezes com a narina que ainda ficara razoavelmente boa pelo noite de ontem. Vestiu uma bermuda e regata, chinelos, saiu do apartamento, pegou o elevador. Foi até a garagem já bem ligado nos 220w. Sentia-se bem com o efeito da cocaína quando se deparava com algo que tinha ficado incompreendido. Quase se cansou e a respiração ofegava. Verdade que a ressaca ainda se fazia presente martelando sua cabeça.

Dirigiu-se ao carro e com a chave de controle remoto abriu as quatro portas e vasculhou em busca do que o avisaram que deveria estar no carro. E estava lá, no chão do banco de trás: uma calcinha branca, esgarçada como que forçada para retirar e com algumas gotas pequenas do que pareceria ser sangue.

Coração acelerou. Ideias desconexas. E por fim exasperou-se. Abriu então o porta-malas e uma mulher amarada em cordas de varal com sua cueca na boca olhando-o suplicante. Nariz sangrava e ela apenas conseguiu grunhir. Assim que tirou o que lhe tapava a boca ela iniciou a gritaria.

---- Vou pra polícia. Safado! Cheirador louco! Quase me mataram!

Antes que pudesse continuar, ele deu um murro que a fez tontear ainda sentada no para-choque com as pernas balançando. Pegou-a e caminharam até o elevador que, afortunadamente, estava ainda ali. Olhou para as câmeras de segurança e despreocupou-se porque ainda quedavam-se inoperantes. Ninguém no elevador naquele horário foi providencial. Entraram no apartamento e ele a jogou quase desfalecida no sofá.

Em seguida ligou para o seu fornecedor para encomendar pra aquele instante mais do produto. Enquanto isto, usufruiria da mulher como melhor lhe aprouvesse. Aquele corpo combinaria bem com a farinha que estava por chegar.  

A ressaca? Uma dose dupla de uísque terminaria com ela.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

58] CENÁRIO SP - LÁ PELOS LADOS DE SANTO AMARO

Agora que havia (re)descoberto a avenida Santo Amaro, o bairro do Brooklin ("por influência americana?"), Itaim Bibi ("por influência tupi-guarani?"), o Borba Gato ("sei lá qual influência na construção sessentista deste 'monumento'"?), a avenida João Dias e adjacências. E olhem estas são muitas, quilômetros e quilômetros. Se aqui não é Nova York, é São Paulo mesmo e a velha mania de nomear pedaços de terra que homenageiam terras distantes e... Ricas, por certo!

Bem, voltado a Santo Amaro, desde a Brigadeiro, e seus quase 8 mil metros, por estes dias mesmo ele aprendeu um caminho X que encurtava o trajeto de 50 minutos entre a Vila Mariana e o Brooklin ("Rsrsr", porque ria quase sempre pensando se no bairro nova-iorquino). 

E hoje, chegando ao local de seu novo trabalho - uma imponente construção datada dos anos 1990, portanto com já com a febre arquitetônica das vidraças azuladas - logo na entrada ao avistar um novo carro velho no estacionamento da firma, ele julgou horas atrás que poderia ser alguém oferecendo novos materiais. Verdade que deveria haver outros carros estacionados no pátio; e verdade também que ele acabou chegando mais quase meia hora mais cedo. 

E não que não era. Assim que ele passou pela porta giratória, já guardando os óculos escuros, ele para por uns segundos tentando identificar o que pareciam ser suspiros vindos da sala ao fundo do corredor principal. Tudo apagado e a porta semicerrada, o ar-condicionado no último grau tornou o ambiente gelado, em pleno verão paulistano de temperaturas fritar ovo em asfalto. Os pelos se arrepiaram se eriçando.

---- Acho que deixaram o ar ligado a noite toda.

Antes que pudesse ir pro fundo da sala de reunião, ele vê sobre a mesa o porteiro da noite em cima da faxineira: a bunda peluda indo e voltando é interrompida, bem como os tais gemidos há pouco indecifráveis. A cara de ambos é igual de uma criança que é descoberta olhando pelo buraco da fechadura a prima tomando banho.

---- Nossa, desculpa... 

Ambos tentam se recompor de tão atrapalhados que estão. Porém tem mais: tudo não acaba por aí. Sob a mesa de madeira maciça, embaixo mesmo, levanta-se o dono da empresa, nu, literalmente com o 'brinquedo' na mão, a camisa toda amarfanhada; e claro, a calças do terno 'o defunto era maior' arriada.

(continua...)

sábado, 17 de setembro de 2016

VIAGEM CCCIII - SÃO PAULO, POPULAÇÃO: 2

Arquivo pessoal - Instalação CCBB - São Paulo
Andava tanto pela cidade que ainda parecia não conhecer todo aquele chão. Uma mancha urbana de centenas de quilômetros quadrados, com uma dúzia de milhões, do Itaim Paulista ao Jaguaré, de Marsilac à Cantareira. Conhecia algum lugar novo a cada semana.

Sempre que ia - também porque sempre que voltava - notava e por vezes anotava em seu telefone suas impressões acerca da cidade alfa do hemisfério sul; bem, aqui há uma mentira sem muita gravidade. 

Uma mentira antiquada na verdade, porque as tais anotações eram feitas ao vivo, com sua voz de locutor, no gravador do seu potente telefone de penúltima geração (o de última ainda seria preciso andar mais e mais por São Paulo). Debaixo de chuva ou de sol, no calor ou no frio. E na garoa, sem dúvida.

E ia pra quase todo canto da cidade. E pelas andanças, conhecia muita gente, dos mais variados lugares, com variadas temáticas, de diferentes pensamentos e jeitos de encarar a vida. Aí uma verdade: São Paulo é mesmo assim, nem poderia ser diferente; porque, aqui, tudo é superdimensionado, super transcendental e há aquele exagero dos milhões citados logo acima desta crônica.

Voltando a ele: homem comum - regular -, nem 0, nem 10, mas sim 5, às vezes um 6. Tipo que se vê aos milhões entre os 12 que cá existem.

Conheceu tanta gente e ainda conhecia. Preferência por alguém em específico ele não possuía. Às vezes acontecia de rolar uma "preferenciazinha", mas já havia algum tempo que as pessoas passavam e se iam... Sem choro e sem tristeza. Conversas mais fechadas, outras mais abertas, porém todas verdadeiras. Algumas ele se demora mais porque é um observador nato da linguagem corporal e por aí descobre tantas características. 

Em um dia destes, andando pelas ruas do Centro de São Paulo, em meio àquela multidão de ir e vir, de sapatos que não param, que ziguezagueiam, percebeu que com ele ou sem ele, a cidade seria absolutamente a mesma. Ser mais um entre tantos o igualava a estes mesmos tantos? Longe disto, porque sentia-se único com a firme esperança que sim teria mais algum que pudesse levar uma vida a 2.

12 milhões em São Paulo; ele é 1 só. 

Neste ir e vir diário frenético, interrompido apenas aos domingos e feriados, ele encontrou e logo que viu observou atentamente. Quis ser os o copo naquela mão, quis ser o jeans que envolvia aquele corpo, o banco de apoio. Observara com tamanha acuidade que, então de forma inesperada, veio até ele e logo começaram um longa conversa com toques sutis de mão, risos contidos (que depois passaram a ser escancarados) e um abraço. Parecia que ele queria entrar pela boca e ficar ali ouvindo bem de pertinho. Um abraço de afeto pela surpresa do encontro. Pôde sentir o cheiro no pescoço e São Paulo se tornou a menor cidade do mundo.

Deveria constar nos dados estatísticos: população em setembro de 2016: 2.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

CCCII - EM PILHAS DE GRANDE QUEIMA

Arquivo pessoal - Aclimação, São Paulo
"quais sentimentos são mais caros de se possuir?

amor? amizade? gratidão?

vários que podem se perder pelo caminho...

cumplicidade? solidariedade? ganas por alguém?

são tantos os sentimentos, a leste e oeste de meu cérebro,

ao sul e ao norte de meu corpo...

pelo centro, por fora e por dentro,

por baixo, pelo apêndice a tremular

há alguns outros por aí que podem ser vendidos em lugares quaisquer,

com prazo de validade a vencer e uma vez "adquiridos"

paga-se muito caro para se livrar deles...

destes bem baratos que em qualquer supermercado tem

dos grandes aos menores, cheios e vazios e

vendidos aos montes, em pilhas de saldão, com cartazes de grande queima

(de baciada a cair pelas beiradas desbeiçadas)

só meu amor é que não se vende, nem se troca

(ele é complementado tão-somente)

porque é caro?

porque tem pouco no estoque?

nada disto; é porque tornou-se um item raro

antes, bem antes e até você chegar, havia amor de sobra

derramado, vertendo pelos poros todos,

e agora parece haver uma retração no "mercado"

e também porque parecer assim... fácil, barato

encontrar-me-ei somente com gente fácil e livre para pensar

valho mais, muito mais do que o item de graça de graças que não me apetecem

pilhas de sentimentos envoltas em uma - e apenas uma - mentira

embrulhados em papel-jornal, sujo, manchado e alérgeno".