sexta-feira, 29 de novembro de 2013

VIAGEM CLV - TENTATIVAS SEGUIDAS

Raucíssono, com as veias saltadas a garganta que arranha
Feito parede que se lixa e encobrindo o ambiente de pó.
Ao pó, ele retornará depois que passar desta e for para o alto (porque é o lugar que ele julga que irá quando descansar de sua ira), em um azul de paz e de mansidão
Afinal, este pó que lhe entra pelas narinas, esmagando seus brônquios na tentativa de brigar, só faz piorar aquele grito no meio do nada em meio a milhares de pessoas. Gritaria dele mesmo com... Ninguém, pelo visto.
Porque que deveria ouvir sequer fez menção de virar a cabeça e tentar distinguir de onde vem o som, quem profere.
--- É você, idiota! Não percebe? Não me ouve? E sai andando, assim como... Não me ouve?
Chegará ao fim do dia e estará rouco. Raucíssono.
E de que isto adiantará? Terá sido mesmo um esforço? Visto como um esforço?
Mas por hora, cansado que está  empapado de suor nas partes, deseja mesmo ir embora para casa nesta tarde de intenso verão e poder arrancar suas roupas e deitar-se. Nu para se recuperar.
Pode ser que sua garganta se recupere de tudo o que ainda terá que dizer amanhã. E depois de amanhã. Depois... Até ele conseguir.

PIB DOS ESTADOS; SP DETÉM 1/3

O Estado de São Paulo detém quase 1/3 do total do PIB do Brasil: a cifra alcança R$ 1.349.465.140.040 de reais. 
A Região Sudeste alcança  2.295.690.428.980 de reais, mais de 55%.
Lista:
01
SP
1.349.465.140,04
02
RJ
462.376.208,40
03
MG
386.155.622,31
04
RS
263.633.397,84
05
PR
239.366.010,49
06
SC
169.049.529,68
07
DF
164.482.128,96
08
BA
159.868.615,14
09
GO
111.268.552,97
10
PE
104.393.980,36


ES
97.693.458,23


PA 
88.370.609,61


CE
87.982.450,26


MT
71.417.805,28


AM 
64.555.403,73


MA 
52.187.203,94


MS
49.242.254,33


RN
36.103.201,63


PB
35.443.831,52


AL
28.540.303,89


RO 
27.839.144,15


SE
26.198.908,34


PI
24.606.833,12


TO
18.059.158,88


AP
8.968.031,82


AC
8.794.361,37


RR
6.951.189,97




4.143.013.336,26
O Estado de São Paulo detém 32,64% do PIB do Brasil.

sábado, 23 de novembro de 2013

VIAGEM CLIV - RECADO

Reprodução [endereço abaixo]
As curvas do outro corpo na cama quadrada - de viúvo - fazem o espaço ficar um exagero depois que se foi bem cedo, o dia mal havia começado.
("Viúvo? Nunca casei, nem enterrei ninguém", ele pensa)
Pela cama quente com cheiro misturado, ele aninha-se para preservar o calor que tanto procurara e que agora o resgatara daquela vidinha excêntrica de urtigão cosmopolita. Pode permanecer no quadrado enrolado em suor e vestindo tão-somente seus próprios pelos. São as curvas, as proeminências pares e ímpares que o desnudam pela noite - ele permite tal desfrute. E se faz fácil e permissivo.

Passados alguns minutos, o relógio toca despertando-o do torpor da noite que já avança pela manhã. Levanta-se e diz bom dia, faz uma pequena oração em prol deles e dos bichos. Chamado da mãe natureza longo e preguiçoso.
Saiu cedo sua companhia de meses - diariamente - deixando um recado no ímã da geladeira branca, tinindo de nova; o bilhete poderia ser velho e repetitivo, rascunhado, com palavras já ditas à exaustão sem o exaustivo enfado que costuma acontecer quando as pessoas amam.... Ou melhor, quando as pessoas se amam. 
("Porque amar sozinho nem amar é! Agonia é!")
Mas escritas com um calor que nem combinava com o frost-free antártico que se fazia presente abrindo-se a tal. Porque o dia será de calor em São Paulo, marcando uns 30°C e tantos; mais quente mesmo só café já preparado na térmica que, aberta, fumega produzindo o cheiro mais tesão do mundo.

"O mais tesão? Não exagera! Tem o cheiro da cama que é mais tesão. O cheiro do travesseiro molhado de suor que é mais tesão". E ri sem medo. Forte, retinto e amargando suas papilas, ele se lembra-se que quase está atrasado para o trabalho. Banha-se, barbeia-se, veste-se. E ama tanto que já sente saudade. Calma! Não é saudade daquelas que sufocam feita uma prensa esmagando o peito. Que nada!
Só aquela saudade de chegar logo 19h para poder abraçar, ser abraçado, beijar, ser beijado. Poder falar e ouvir com especial interesse tudo o que sai daquela boca.

No caminho de meia hora já na volta manifestações gases lacrimogênios, policiais, mascarados, corre-corre, balas de efeito moral e trânsito desviado. Pela janela vê tudo passar diante como um câmera observa atento, sem envolvimento, os acontecimentos que andam movimentando as ruas dos desvairados da Pauliceia. 
Atraso. 10 minutos. 30 minutos. Mais de uma hora.
Chegando em casa, saudade apertando, o cheiro que tanto lhe traz tesão, a ereção, o faz se apressar em ir ao quarto que ao passar pela cozinha faz o recado da manhã cair dançando pelo ar ao chão.
Ouve então a voz de balsâmica que nunca esquece, a tessitura que derrete o restante do mundo. O som que apaga tudo à volta.
--- Vem aqui, vem, deitar comigo!
E ele vai. Sempre ele vai.

http://es.dreamstime.com/imgenes-de-archivo-libres-de-regalas-refrigerador-amarillo-image25864489

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

VIAGEM CLIII - EQUIVALÊNCIA

Reprodução [endereço abaixo]
Equânime! Foi o desejo.
Equidistância não respeitada!
Terão sido um equívoco tais tentativas?
Tentativas de equiparar-se em altura, 
em amor e em afeto?
Equação, das piores que da época do ginásio.
Insolúveis quando ele olhava o quadro negro cheio de "x", de "y",
e algumas vezes de "z". O pó branco entrando nas narinas...
(de "pi", "alfa"... e as raízes quadradas infinitas...)
Quase as resolveu, quando por intermédio de um afeto esquisito,
quis mesmo cravar-se no chão, tamanha vergonha.
Pelo equívoco, é claro.
Para que desprendeu tanta energia? Para nem mesmo obter um pouco?
Equiparou-se ao melhor que ainda tinha...
E foi ser feliz em outro lugar, com outro alguém.
E foram, sabiam? 

Equivalência no afeto, na cumplicidade... 
Por que se equivaleram sem demandas prévias, 
tampouco aquelas repetidas, as incompreensíveis
(as das equações).

http://whiskerino.org/2009/beards/brandonhill/4434/

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

VIAGEM CLII - OS FANTASMAS DA TARDE

Reprodução [endereço abaixo]
(em alguns destes incontáveis cadernos eletrônicos perdidos pelo mundo, por aí vagando feito alma penada. Quem sabe é vírus... Quem sabe, não é? Mesmo assim, ele abriu o arquivo)

"E estava eu ali, em plena Praça do Patriarca a caminho de outra praça, a da Sé, e vieram e sobrevieram os fantasmas, em plena luz do dia, mortiça de uma primavera com cara de outono, termômetros marcando 15°C em novembro. Nem calor fazia, como já deveria fazer por estas épocas.
"Lá vieram os fantasmas. Rodearam-me e começaram o que melhor sabem fazer, sem samba de despedida, sempre desmedidos: assustaram-me, e de novo, sem sustos, conseguiriam manter minha cabeça em rodopio de redemoinhos, como arbustos secos ao vento em filme de faroeste espaguete dos anos 60.
Vieram e ficaram um tempo, bom tempo, diga-se.

Em meio a multidão dos milhares que ziguezagueiam pelo centro da grande metrópole alfa, quedei-me solitário: sem ruídos de gente, carros, apitos, alarmes... Eu, todo alarmado, por saber que os fantasmas voltaram a me perturbar, comecei a caminhar em passos rápidos para poder chegar à Sé, a tempo do compromisso. Alarmei-me mais quando percebi que quase corria. Mas não para chegar atrasado, porque eu sempre chego adiantado. Corria quase para despistar - com pitadas apressadas em meu sapato que me apertava o pé esquerdo - os tais fantasmas da tarde, há tempos esquecidos.

O pior deles não representava você; porquanto você se fez representar, é claro! O pior era era eu: o passado. Ou seja, o fantasma mais taciturno e mais soturno era eu mesmo do passado agora neste dia presente  de novembro.
Foi ferro. Não quero tudo de novo!
E que casamento perfeito entre você de sempre - e de agora - com o meu eu de antigos dias. À perfeição.

Na calçada estreita da rua Benjamin Constant, com cuidado de desviar-me de qualquer outro vivente que passa - e passam muitos - pelo meu malmequer fantasmagórico, seguia com pressa. 
Ternos, gravatas, churrascos, saltos, gritos, toques de celulares, ofertas e tudo mais. 
Como só eu lhes via, não é mesmo? Deve ser porque existem somente para mim. 'Parabéns para mim'!
Nunca considerei isto permeado de justiça plena, ao contrário, injustamente você voltara naquela tarde cheia de trabalho a me assombrar.
Que seja assim, mas que seja por esta tarde tão-somente. Você deve ir embora.
Sem mais, vá embora".

http://www.dreamstime.com/royalty-free-stock-images-flying-ghost-sheet-image19987049

terça-feira, 5 de novembro de 2013

VIAGEM CLI - O VALENTE

Reprodução [endereço]
Valente, valoroso.
Este era o homem, uns 35-40 anos. Nem tão jovem que tivesse perdido a vontade de mudar. Nem tão velho para desconhecer as armadilhas que os outros homens fazem ao longo da vida.
Desde lá, muito tempo atrás: mudanças e armadilhas
"Mas quando é que estas armadilhas vingaram?", perguntava incessantemente a um interlocutor imaginário.
 Qualquer que fosse, o que importava é não haver ruído na conexão emissor-receptor, como os teóricos (e tétricos?) da comunicação inventaram lá pelos anos 1920, 1930... Ou que o ruído fosse bem baixo, de preferência grave por que de agudos já basta a pouca valentia. Agudiza-se a coragem até quase acabar, se assim for.

E basta também de poucos valorosos homens que existem nesta vida.
Este era o homem, formado em grau superior. Nem tão inteligente que pudesse se ensoberbecer e pelo conhecimento adquirido. Nem tão ignaro que pudesse ser logrado facilmente.
Robusto, o que mais tinha é seu desprendimento em matérias de coisas materiais, tão ricamente vívida em muitos dos seres humanos.
Valente, demais de valente. Até mesmo quando no meio da madrugada acordava de um daqueles sonhos sonhados como pesadelos: de querer correr para sobreviver e sobrevir o perigo imobilizando suas pernas.
Que, digamos, se parece com a maioria das pernas dos homens, seja daqui de São Paulo, ou de Timbuctu, ou ainda de Rovaniemi: com pelos, bem postadas, pouco arqueadas, tudo na medida. Destas vezes, acorda sobressaltado, ofegante e em sudorese plena no corpo todo. Empapando-se.

Mas enfrenta com valentia: levanta, acende a luz e bebe água. Aliás, à agua junta-se o movimento de andar e de pisar o chão frio, o que aclaravam a realidade em detrimento ao sonho sonhado em pesadelo.
Valoroso. Tem valor, como poucos podem afirmar, porque poucos possuem tal valor de homem. De carácter, com caracteres intrínsecos de lealdade, vibrante força e meritória estética mental.
Quem o procura?
--- Eu não sei quem me procura. Bem que quero saber.
Se ele quer saber, muito vai importar a valentia e o valor. Que não dependem da aprovação de outros, porque indelével mesmo é a própria aprovação prévia, preto no branco que ele mesmo auto impingiu. 

http://oddstuffmagazine.com/a-brave-man-that-photographs-danger-volcano.html

domingo, 3 de novembro de 2013

VIAGEM CL - BLINDAGEM COM ARMADURA

Reprodução [endereço abaixo]
Para vocês, seres humanos: ególatras, egocêntricos e egóicos.
1, que era eu, depois veio aquele 2: você.
E o 3? como dizem por aí: "é demais!". Ignoramos.
E o que é demais para você? Toda aquela soberba entranhada em você que o faz sentir-se um daqueles seres tão grandiosos - um ser megalômano empedernido - que olha o mundo como este lhe devesse um favor, como se fosse um privilégio você habitar (e sabotar) entre nós, os pobres mortais... Os passageiros de 2ª classe em passeio que nada trará realmente de bom à sua vida, que deve ser triste. 
Ou ainda, significa que você é tão insignificante que precisa desta armadura para proteção. Porque quebrar-se-ia à realidade da vida, que aliás, você a vê tão particularmente enviesada.

Fez a blindagem contra interações?
Olha, em se tratando de armadura, sou mais versado e gosto mais daquelas dos cavaleiros medievais: tão dignos na defesa de seus propósitos, na defesa de melhores dias e de um melhor mundo.
Mas você! Ah, você... Tão armado com este ferro que nem percebe existir alguém que possa transferir-lhe certo amor, mais um tanto de solidariedade e reflexão e, então, anda duro nestes tempos de século XXI, monitorado pela armadura que mal consegue ver o que está à volta.
Quer saber?
Você nem que ver mesmo. Disto nós todos sabemos. E eu sei já de longa data.
Nunca tive como lhe falar isto cara a cara. Por que?

Porque eu não consegui e é provável que não consiga tampouco (se bem que hoje tais chances aumentaram um tiquinho e seria bom para mim e para você). Emissor/receptor.
Vista-se de armadura, prenda-se dentro dela.
Duramente dentro dela, limitando a percepção do mundo que já é torta para você.
Caminhe com dificuldade. 
Porque você quis assim e escolheu assim.
Suporte o peso da armadura  (pensando bem, acho que começo a sentir dó deste quadro todo que pintou...). Você range como porta sem óleo.


http://www.wallaceprints.org/image/429366/possibly-ulrich-rambs-armourer-detail-from-equestrian-armour