sexta-feira, 31 de agosto de 2012

ESTIMATIVAS DO IBGE 2012

Como todo ano que não tem censo - e eles são a maioria na proporção de 9/1 - o IBGE divulgou hoje dados referentes às estimativas de população de todos os 5.564 municípios mais Brasília e de todas 27 unidades da Federação.
Não houve alteração nas 15 primeiras posições com relação ao censo realizado em agosto de 2010; entretanto passamos a ter 16 municípios com mais 1 milhão de habitantes, dos quais 03 em São Paulo e 02 no Rio de Janeiro. A Região Sudeste conta então com 06 destes.

1
São Paulo 11.376.685 SP
2
Rio de Janeiro   6.390.290 RJ
3
Salvador   2.710.968 BA
4
Brasília   2.648.532 DF
5
Fortaleza   2.500.194 CE
6
Belo Horizonte   2.395.785 MG
7
Manaus   1.861.838 AM
8
Curitiba   1.776.761 PR
9
Recife   1.555.039 PE
10
Porto Alegre   1.416.714 RS
11
Belém   1.410.430 PA
12
Goiânia   1.333.767 GO
13
Guarulhos   1.244.518 SP
14
Campinas   1.098.630 SP
15
São Luís   1.039.610 MA
16
São Gonçalo   1.016.128 RJ
17
Maceió      953.393 AL
18
Duque de Caxias      867.067 RJ
19
Teresina      830.231 PI
20
Natal      817.590 RN
21
Campo Grande      805.397 MS
22
Nova Iguaçu      801.746 RJ
23
S. Bernardo do Campo      774.886 SP
24
João Pessoa      742.478 PB
25
Santo André      680.496 SP
26
Osasco      668.877 SP
27
Jaboat.dos Guararapes      654.786 PE
28
São José dos Campos      643.603 SP
29
Ribeirão Preto      619.746 SP
30
Uberlândia      619.536 MG

Além destes da lista, são 38 municípios espalhados pelo Brasil com mais de 500 mil habitantes. Os 3 Estados mais populosos emplacam 17 e se destacam mais uma vez:
SP- 09 
RJ- 04
MG- 04

Piracicaba ocupa a 62ª posição no ranking com 369.919 estimados para agosto de 2012.
Quem quiser acessar o sítio - confuso como sempre - do IBGE é só clicar aqui:
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2204&id_pagina=1
(no formato pdf, ods ou xls)
Pode ir direto à página por aqui também:
ftp://ftp.ibge.gov.br/Estimativas_Projecoes_Populacao/Estimativas_2012/estimativa_2012_municipios.pdf

48 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - LIVROS PARA PUBLICAR

Reprodução [link da foto abaixo]
Reunião tomou toda a manhã avançando até as 14h sem que ele pudesse sair para o almoço, fator que causava irritação sobremaneira. 

Resolveu-se muitas coisas e o planejamento para 2013 finalmente fora fechado a contento de todas os envolvidos, incluso ele. Sim, ele que bateu o martelo na principal das divergências quanto à publicação de livros de auto-ajuda: o número de títulos deste segmento fora diminuído para apenas dez ao longo dos doze meses que virão. 

Argumentou que tais livros andam com vendas em alta, é fato, mas que a editora não pode ser reconhecida no país dos não muito letrados como uma empresa que publica tão-somente livros com pensamentos positivos, de como ganhar dinheiro e congêneres; "e não estaremos excluindo estes livros, apenas dando espaço para outros segmentos", redarguiu finalizando. 

Ele próprio, dono fosse, não publicaria nenhum deles porque os julgava verdadeiro lixo não reciclável tamanha sua "Alice no país das maravilhas" contida em páginas para almas em desassossego. Cedeu por um lado, esticou a corda por outro e resultou em um cronograma de lançamentos - o melhor em muitos anos. 

Também livros de "literatura gay" ficaram em segundo plano, "mesmo porque não vendem o suficiente para que tenhamos mais títulos deste segmento. Creio que este mercado ainda não foi bem explorado, mas por outro lado, parece que só pornografia vende mais ou menos- o que ainda não é muito em termos de reais -, e portanto, devemos manter o número deste ano", esclareceu sua posição quando, na reunião, lhe perguntaram sobre este nicho que tanto crescia. 

--- Não cresce tanto assim para justificar mais lançamentos. Só ver os números.
Disse em alto e bom som ainda no começo da longa reunião, o que fez calar dois defensores "moderninhos" da ideia.

No escritório, agora sozinho, mas como em seu castelo invencível, seu estômago se fez notar de maneira aguda. Saindo, ainda no elevador, verifica as chamadas não antendidas durante a reunião de três horas: a faxineira realizou duas, uma de sua gerente, mais uma do zelador do prédio e, por fim, outra do... Veterinário dos seus companheiros de conviva na cidadela inexpugnável.

Não havia recado, apenas indicava uma chamava não atendida.
Ganhas as ruas para almoçar mais de 14h30, celular à mão.

"O que será que o Licínio quer? As vacinas estão em dia, contribuí para a feira de adoção... O que mais pode ser além disto tudo. Que proximidade é esta? Ando pensando nisto tudo, em minha vida de eremita e fico dando voltas e mais voltas em minhas cabeça sem que eu possa... Espera. Eu nem sei do que se trata. Porque já to pensando em algo "social" se nem mesmo eu sei dele e ele sabe de mim nada?"

Almoça vorazmente uma grande salada com carne grelhada. O telefone o chama. É o veterinário que insistem em falar com ele.
--- Alô Tito. Tudo bem?
--- Tudo bem sim. Estou te atrapalhando? Posso te ligar mais tarde se preferir.
--- O que eu prefiro agora não conta, pelo menos não desta vez. Brincadeira, pode falar. Estou terminando o almoço.
Silêncio de um... Dois... Três... Quatro segundos
--- Desculpe. Pensei que já tivesse almolçado, mais de 15h já...
--- Que nada. Pode falar 
---Vou adiantar rapidamente porque é um assunto que não dá para resolver agora, é só uma primeira conversa. Estou escrevendo um livro sobre a interação entre cães e gatos. "Os melhores amigos de seu amigo". 

Em um repente, um furacão de pensamentos passa pela cabeça do editor que nada menciona.

--- E se fosse possível, queria conversar com você...
--- Porque queria? Não quer mais?
Mais segundos de silêncio.
--- Brincadeira de novo. Hoje é sexta! Fala, continua.
--- Quero falar com você sobre o livro porque, na verdade, seus 'dois filhos' podem compor a lista de personagens com fotos e depoimentos. O que acha?
Ele é que faz silêncio.
--- Está aí? Alô! Alô!
--- Sim, estou aqui. Um livro para publicar que trata da amizade entre cães e gatos? Nunca vi nada em nenhuma prateleira de livraria sobre isto.

Combinam um breve encontro na clínica amanhã, na hora do almoço para conversarem mais sobre o assunto; e ele levaria Felino e Rex. Fica surpreso como faz algum tempo que não ficava com nada neste mundo de livros, páginas, escritores e afins. Ao mesmo tempo que isto pode denotar uma maior proximidade com outros seres humanos (além daqueles com os quais trabalha), o que lhe causa certa espécie, ao mesmo tempo tem atração pela ideia: este livro de amizade pode ser um grande fenômeno de vendas", pensa ao passar o cartão.

[http://www.google.com/imgres?num=10&um=1&hl=en&biw=1024&bih=604&tbm=isch&tbnid=FyF9F8ncBW6nhM:&imgrefurl=http://www.ehow.com/how_7766062_publication-date-old-book.html&imgurl=http://img.ehowcdn.com/article-new/ehow/images/a07/d0/1e/publication-date-old-book-800x800.jpg&w=384&h=300&ei=tA1BUIegHMr50gHzxIGgCw&zoom=1&iact=hc&vpx=277&vpy=144&dur=150&hovh=198&hovw=254&tx=92&ty=100&sig=103685243983841832955&sqi=2&page=1&tbnh=128&tbnw=161&start=0&ndsp=18&ved=1t:429,r:1,s:0,i:76]

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

VIAGEM LXXI - A INVASÃO DE MARTE

MARTE REPARTIDO ENTRE VITORIOSOS

Reprodução, os tons de Marte [link abaixo]
Recebeu este email com o título 'jornalístico'; no corpo da mensagem o texto estava recheado com vários erros de gramática: ortografia, acentuação e concordância verbal; sem mencionar a pontuação. 

Corrigiu-os sem que se alterasse o sentido daquilo que fora escrito. Logo que abriu o que poderia ser lixo eletrônico e passou os olhos, pensou que fosse um estrangeiro escrevendo porque havia erros infantis que não combinavam com as ideias e o voculário expostos. Ficou em grande dúvida sobre quem escreveu. De vez em quando, entre um trabalho e outro pelas ruas de São Paulo, lia a mensagem seguidas vezes.

(o texto do email revisado)
"Como Marte será dividido? Acordos? Tratados? Rompimentos destes?
Quem serão as potências que sentar-se-ão à mesa para negociar? Resolverão depois de quanto tempo de guerra?
Negociar o Planeta Vermelho.
E será que quando pusermos os pés em Marte - no sentido territorial/comercial do processo - vai haver alguma disputa para qual grupo predominará e, portanto, dominar a maior  parte, o melhor pedaço. Ou dominar tudo?
Julgando pelo que fizemos desde as mais antigas civilizações, ele supõe que haverá cruenta guerra com matança e traições de todos os lados.

Ele pensa no processo de colonização das Américas, da África, da Oceania e de boa parte da Ásia. E havia gente lá para defender seu chão, o lugar onde viviam, onde aprenderam a amar e que lá viveram suas mais antigas gerações. Ocorreram guerras e desmandos, povos foram dizimados, a natureza teve seu curso alterado pela ocupação, territórios foram riscados do mapa e divisões aleatórias foram feitas mediante a mão pesada do conquistador que impôs novos métodos de convivência.

E em Marte que não tem ninguém? Pelo menos ninguém que se possa ver pelos novas missões não tripuladas - os robôs "feitos jipes"- as quais mandam fotos e nos maravilham pela imensidão de tons de vermelho - desde o rosa mais claro ao ferrugem mais escuro -, pela aridez e secura. 
Que forma de vida existe lá? E pode existir? Claro, não agora em para os próximos anos; fato ainda impossível. Porém, o tempo passa sem cessar e as invenções dos homo sapiens sapiens se sofisticam. 

Quem sabe pelo ano de 2050? 
Não, mais tarde? No ano de 2080? 
Faltam 68 anos, mais dos que os 43 desde que o homem pisou na Lua, o satélite "esquecido". O nosso vizinho de sistema solar é maior que a Lua e estrategicamente pode ser mais interessante para os geoestrategistas; o 'geoespacial-estrategista', uma das vertentes da nova profissão, a geopolítica espacial. Estes profissionais serão os cientistas/pesquisadores/generais que esquadrinharão o terreno com a função repaginada da cartografia do século XV, quando os portugueses se lançaram ao Atlântico.

E Marte? Nas grandes cadeias montanhosas do planeta vermelho, haverá a extensão da guerra? Parece que o vulcão extinto, o Monte Olimpo - Olympos Mons em latim -, mais alto medida até hoje tem 27 km de altura, + de 3x o Evereste! De trincheiras marcianas opondo terráqueos contra terráqueos (e poderia ser diferente?) que desejam colonizar o novo espaço a ser conquistado? Ou pondo alguma forma de vida não detectada por nós, 'os mais sábios do Universo...'. Até agora.

Nosso vizinho no diminuto sistema solar tem lá sua topografia pouco conhecida e rastreada. Como serão os combates em chão? E nos céus marcianos (até o presente, pelo que se tem conhecimento, não há maré, nem lagos, nem rios)?
Haverá leitos antigos de rios? Planícies para estabelecer acampamentos? E a velocidade dos ventos será mais um empecilho? As estações? Dizem que a temperatura pode chegar -107°C no inverno marciano.
Minerais a serem explorados? 
Áreas em litígio?

Sei que o que aconteceu com nossa história desde muito tempo lá trás pode repetir-se logo ali na frente, antes do século XXII. Porque antes de 2100, o homem já estará em luta por mais este território". 


Imprimiu a mensagem duas vezes: com erros e sem erros. Dobrou a primeira e guardou em sua carteira com os dados de hora e data, e com o código alfa-numérico sem tamanho para que pudesse mostrar que se um "qualquer" já se queda preocupado com a conquista do Planeta Vermelho, pôs-se a pensar que tal ideia deve passar na cabeça de visionários (hoje tido como loucos?) e governantes que enxergam além da da Terra. O porta-luvas do semi-novo sedã de velho é o lugar mais próximo para manter o documento à mão.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

47 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - LETRAS E PALAVRAS

Reprodução (endereço do sítio abaixo)

Fechando a porta do castelo - sua ponte levadiça agora sem sentinelas -ele pensa que deveria mesmo retomar seus escritos e fazer deles um grande livro, daqueles pesados e grossos, com mais de 500 páginas; igual aos escritores russos fizeram - só ver Doistoiévski e suas obras. Porque o que ele tem de escritos e destes os inacabados, fariam a festa de qualquer editor (uma auto-ironia).

"Será que eu conseguiria retomar minha aliança com minha criatividade nestes tempos de ganhar e muito dinheiro? Tem tantos outros caras que realizam tudo junto e tudo nesta vida. Dinheiro, não é? Por isto que eu acho que não sobre tempo para eu não pensar em qualquer outra coisa. Virei um ermitão, discricionário de mim mesmo, sem nada para retomar... Bem que eu deveria. Bem que eu poderia. E vendo desta assim... ora, sei lá. Porque não descartar o que foi escrito antes - lembro de tanta coisa, de tanta gente ´e iniciar algo novo, no qual as pessoas pudessem participar?".

Antes de andar as poucas quadras até a editora, em casa ainda, no café da manhã, fez tudo como sempre fizera ao longo deses anos de cosntrução do castelo intransponível: com calma e vagar que constratam em demasia com sua performance que apresenta em sua sala de trabalho, na imensa sala povoiada de manuscritos, papéis, livros e toda a parafenália moderna que se possa ter. Andou pela casa porque acordara mais cedo que o relógio-despertador - ainda de madrugada -, fez o café e sentou-se na grande sala sozinho alimentando os sonhos e esperanças de um vida mais promissora de um escritor que pouco escreve, porém que deseja escrever mais, sem parar. 

Saboreando cada gole de café amargo, acabou por lembrar que sua conta, ou melhor, suas contas bancárias haviam crescido em aplicações e saldos sem que aplicasse em nada em sua vida de antiga escritor e que o seu saldo como tal, fora parar no limbo. Transformara-se em alguns poucos anos: de escritor quase sem dinheiro - "na pindaíba usual" - em um executivo engravatado com certo poder financeiro. Ainda sentado, viu que o dia começava a se espraiar lá fora e que deveria levantar-se da poltrona.

Assim que o fez, Felino e Rex vieram ao seu encontro muito felizes cada um expressando como lhe cabe cada espécie seu afeto. Pela manhã, talvez por estar meio sonolento e também pela idade avançada, o conselheiro-mor ronronava e enroscava-se em canelas cabeludas miando baixinho. Já o príncipe herdeiro, todo estabanado pulava e latia sem parar. Espreguiçaram-se, que foi uma delícia de ver, no caminho à cozinha. 

Sai do prédio e vê a metrópole de tanos nomes, de tanos milhões, de tantas coisas e números e palavras e fatos e crimes e soluções como uma verdadeira fonte de qualquer coisa que decidisse escrever. E porque ainda não retomou a carreira de antes, quando andava com um bloco, depois com um gravador e registrava o que via e ouvia e tudo? 
Resposta lhe vem à mente de imediato: sua preocupação em não repetir a vida de antes, nem aquele relacionamento de antes, o último tão natimorto que o enganara desde o primeiro dia. Razões que talvez não merecessem considerações maiores por quase ninguém. Para ele, tornaram-se uma barreira férrea.
Letras e palavras, os fonemas que as formavam... Tudo o que ele sempre quis e que deixou de lado.

sábado, 25 de agosto de 2012

TRANSPORTE COLETIVO E AUTOMÓVEIS

Assistimos nos últimos 50 anos intenso processo de urbanização em todas as regiões do Brasil e em todas as unidades da Federação. Nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, 1º e 3º em população, mais de 95% vivem nas cidades, dentro do que é chamado de perímetro urbano estabelecido dos municípios; em Minas Gerais, 2ª > população, a marca atinge 85%. São dados 'assustadores' que refletem o intenso movimento migratório campo-cidade que ocorreu em paralelo ao (segundo) processo de industrialização iniciado com a implantação da indústria automobilística no ABCD paulista em meados dos anos 1950.

Este inchaço das cidades brasileiras, ainda que arrefecido na última década principalmente nas capitais, aliado ao maior poder aqusitivo da classe média em ascensão propiciado por políticas macroeconômicas saudáveis desde 1994 e mantidas até hoje, fizeram com que o número de veículos presentes nas artérias urbanas crescesse praticamente de forma exponencial superando em muito os números relativos aos da população como um todo.  Hoje a tráfego intenso em todas as cidades de porte médio para grande; as capitais e metrópoles do interior são as grandes vítimas. Não apenas as duas maiores do Brasil - São Paulo e Rio de Janeiro -, mas também Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Campinas, para citar algumas, padecem de trânsito com seriíssimos gargalos de fluidez.

Em São Paulo, maior cidade do país e maior frota municipal, os problemas deste surpreendente crescimento no número de autoveículos traz problemas complexos e que podem tender a uma grave saturação. Os espaços para carros e companhia são cada vez mais raros. Uma solução a médio prazo é a expansão das linhas metroviárias (em concomitante aos corredores de ônibus, aos incentivos fiscais à venda de bicicletas e à criação de ciclorrotas e ciclofaixas). Hoje a capital bandeirante tem cerca de 75 quilômetros de metrô, o que é pouco para as dimensões metropolitanas da grande urbe do hemisfério sul e da latinidade mundial. O ritmo de construção de novas estações deu acelerada nos últimos anos - política que deveria ter sido estabelecida desde 40 anos passados; não foi feito e agora "corre-se atrás" para minimizar o problema. Há que se acelerar ainda mais a construção de linhas subterrâneas de transporte coletivo.

Enquanto isto, a frota de veículos em algumas cidades cresce sem parar com a relação de veículos por 1000 habitantes se aproximanto da registrada nos Estados Unidos. Lá, há cerca de 800 veículos para cada grupo de 1000 e a frota está na casa dos mais de 235 milhões. No Brasil, aproximandamente 280 por 1000.
Aqui no Brasil, temos ~73 milhões de veículos registrados, segundo dados do Denatran, com grande concentração nas cidades médias e grandes. Alguns exemplos de como as cidades estão cada vez mais "automotivas" em detrimento da coletividade.
Nestes números estão compilados automóveis e peruas, caminhonetes e camionetas, vans, e utilitários (desconsiderei os números de caminhões, ônibus e micro-ônibus; assim como de motocicletas).

1
São Paulo
5.527.810
2
Rio de Janeiro
1.908.971
3
Belo Horizonte
1.186.313
4
Brasília
1.150.225
5
Curitiba
1.088.926
6
Goiânia
631.743
7
Porto Alegre
613.926
8
Campinas
602.586
9
Salvador
574.866
10
Fortaleza
552.033

Fazendo uma análise rápida, São Paulo tem cerca de 1 carro para cada dois habitantes (população estimada pelo IBGE em 11,3 milhões para 2011) - 500/1000; patamar que se encontra também a capital de Goiás. Na capital do Paraná, o índice é ainda mais elevado: 620/1000. Cerca de 800 veículos são emplacados todo dia na cidade, aí incluso todas as categorias de motorizados. Demais capitais também apresentam saturação próxima.
Em meu modesto entendimento, a riqueza de um povo, de um país, não pode ser medida tão-somente pela quantidade de veículos que são vendidos; não se trarta aqui de ter uma visão de "alice no país das maravilhas" e enquadrar o carro como o principal vilão de nossos problemas de mobilidade urbana - não, de forma alguma. todavia, é necessário repensar a questão do desenvolvimento via aumento exagerado de veículos nas ruas. 
Reitero: transporte coletivo é uma possível - e principal - solução, mesmo a médio prazo.
Tudo segundo o Denatran - só acessar o sítio http://www.denatran.gov.br/frota.htm.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

VIAGEM LXX - VENTO SECO DE AGOSTO

Reprodução - crédito abaixo
Fim de tarde e ele passeando pelo ar de São Paulo que mais parece um ar que atravessou o Atlântico todo vindo do Saara, chegou na serra do Mar e abraçou a metrópole com a secura mais do que usal este ano para agosto. Mais usual porque especialmete este ano a umidade do ar tem estado baixa há vários dias. Tempos que isto não acontecia.
Pensando sobre isto, quando criança tais fenômenos passavam desapercebidos por completo e o que ele sentia era apenas o calor e o frio: verão e inverno. Não tinha esta consciência toda sobre o que se passa pelas estações do ano nem suas consequências para as pessoas, incluso ele: faltava-lhe um tanto de ar, os olhos sempre ramelentos durante o dia ("!"), as narinas queimando por dentro e a garganta seca como pó. O pior mesmo era ter que diminuir o cigarro: nestes dias fumava apenas um maço por dia porque o normal chegava a dois mesmo.

Saúde perfeita até então, ou melhor, até esta época. Fizera exames no melhor hospital de São Paulo meses atrás e nada fora constatado em seus pulmões quarentões. Verdade que a médica que o atendeu - "a doutora" - lhe causou nojo e aversão como ela o tratara. Findados os exames depois de longa tarde deles, ele o seguiu até sua casa que ficava perto da USP, lá no Butantã e resolveu tudo como em um passe açucarado para qualquer esportista matar o jogo. E matou a jogada.
Passeando pelas avenidas Juscelino Kubitschek e Santo Amaro, mais ainda pela São Gabriel, seu carro ronronava igual a onça que o faara enganar eventuais - e são poucos - perseguidores e suas presas.

"Aquele bicho enorme, o maior felino das Américas consegue ronronar feito um bichano de casa que se enrosca em suas pernas.  Nota 11 para ela! Esperteza mesmo! E claro, a força aliada; só assim para conseguir se garantir na floresta"

Vidro aberto, garrafa de água litro e meio e o indefectível cheiro de chocalate pelo semi-novo sedã de velho.
--- Daqui a pouco não vai ser mais sedã semi novo e também vou combinar com o carro de velho. Contudo, para fazer o que eu faço, não tem idade, nem sexo. Verdade que mulheres são mais "boazinhas", segundo um senso comum... Hum... Será mesmo? Tenho minhas dúvidas: tive professoras que foram verdadeiras bruxas encarnadas. Os homens são mais ariscos em geral, mais fortes em geral... Não disse mais inteligentes porque não creio que isto seja definido pela sexo, é uma forma de generalizar. Mas por esta avenida JK não vou achar ninguém mesmo, as calçadas meio vazias neste horário ainda. Melhor ficar passeando pela Santo Amaro perto das oficinas mecânicas, auto-elétricas, borracharias e tal. Sempre tem um desavisado pedindo para que eu o encontre.

Durante mais de 2 horas calmamente ele andou (rodou), voltou, passou de novo e por fim, noite já, achou o que ele queria. Ou melhor, quem ele queria. Destes casais que ficam se malhando na rua com muito exagero, avistou um deles encostados no ponto de ônibus. Pelo horário, quase 21h, devem ter saído tarde do trabalho. E exageros ele não os permite, ainda mais que o rapaz tento aliança e ela não, conseguiu chegar mais perto, depois ter encostado o carro, e ouviu que ambos traíam seus respectivos 'amores'. E riu!
Bateu o martelo e decidiu por eles.
Pois é, ele é sempre nota 10 quando sai para fazer seu trabalho.

--- Brasília deveria se inspirar em mim. Tenho 100% de acerto.

Seu mês preferido, agosto, pela simples razão dee a maioria o achar agourento, de cachorro louco, das sextas 13 eventuais e etc... O ar seco de dia e as noites frias combinam com ele. Tudo em agosto combina com ele; até na vontade de Otaviano Augusto, imperador, que "quis" um mês para ele, com 31 dias para não ficar por baixo de julho...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

46 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - O ESCRITOR QUE POUCO ESCREVE

Reprodução
"Quanto um escritor escreve por dia? Como ele mede isto? Em páginas de computador? Deve ser, porque não acredito que haja algum que escreva à mão, muito menos nas máquinas de escrever... Impossível. Ele mede em horas, em dias trabalhando?".

Refaz a pergunta todo dia durante o trabalho e em casa. Fosse, creia-se, pela obrigação que pensa ter em escrever sem parar por horas a fio para poder se intitular "escritor" como ele supõe que deva ser.
As tentativas seguidas por anos resultaram no hoje e em sua verdade: trabalha em uma editora, maior da América Latina , com o cargo de diretor de publicação; foi promovido dois anos atrás de revisor-chefe que fora por quase seis anos.
E porque a cobrança tamanha?
Depois que ascendeu no organograma da empresa, houve uma certa inconstância no ato de escrever e parece mesmo que o tesão em fazê-lo não se faz como era dantes. 

"Mas qual tesão? Primeiro eu tive aquele fase de participar de concursos literários no Brasil todo e até mesmo em países de língua portuguesa; em um deles quase fui para Angola junto com a obra. Contos, poemas, crônica, qualquer um porque minha preocupação - 'sanha' né? - era participar de todos, era que pessoas acadêmicas lessem, que eles, os escritores, só de lerem o que eu fiz tornava-me um membro deles... Eu não fazia distinção de gênero, nossa! Participei de vários. Ficava atento fuçando na internet e descobria um atrás do outro. Lembro bem que o de 1998 foi o que deu início a tudo. É, eu pensei que fazendo assim seria reconhecido como escritor profissional. Pensei que pudesse ganhar minha vida assim, viajando na tela do computador para fora do castelo."

Predileção afetiva pelo conto: havia escrito dezenas deles, talvez mais de 50. Identificava-se mais com histórias que não se prolongassem mas que não fossem 'rapidamente finalizadas'. Escrevera cinco romances, um deles inacabado. As poesias convertiam-se em versos sem rimas. Mas inquietou e logo escrevia várias delas rimadas. Catalogou entre as que não foram limadas, mais 100. Por fim, as crônicas: não as apreciava e pouco fez deste estilo no sentido numérico.

Teve um dos concursos, para citar, que ele foi um dos 10 finalistas, com cerimônia e pompa, com gente vestida a rigor, tudo muito elegante, orquestra, teatro municipal de São Paulo, prêmios... Que ele não ganhou. Na última peneirada, seu conto de 30 páginas não ficou entre os 5 que concorreriam a um curso sobre literatura lusófona no instituto Camões, em Lisboa. Este aconteceu 11 anos atrás. E foi o próprio que o desmantelou por um tempo que nunca sabe precisar até hoje, porque parece que entrou em uma inércia em reler apenas o que tinha escrito até então.

Segundo, teve a fase iniciada depois do gelo/degelo de escrever e começou a produzir em moto-contínuo, pode-se afirmar, quando descobriu que podia ter um blogue. Produção virtual, rápida - sem ser rasteira -, na qual ele podia fazer encadeamentos quando assim desejasse, mas também escrever como se escrevesse para um seriado de tv (gostava dos americanos, sabia o nome dos escritores e roteirista de todos): uma postagem - começo, meio e fim. Às vezes, permitia-se em deixar um gancho para a próxima; em outras tudo se findava em uma postagem tão-somente.
Houve noites no quarto de estudo, ainda na época que só conselheiro-real habitava a cidadela junto a ele, que passava em claro postando sem parar. Nas noite frias e solitárias - geograficamente - não havia frio nem solidão quando escrevia, escrevia, escrevia sem parar, esquecendo de todo o resto; ida ao banheiro por exemplo, só quando terminava, muitas vezes de manhã, perto da hora de acordar para ir trabalhar.

Hoje tudo está muito diferente. O trabalho lhe consome toda a energia física e mental que possui e em razão desta conjugação, ele consegue ter uma vida financeira bem superior àquela anterior de quase não ter $ para quase tudo. Sobre uma eventual comparação, quando chega em casa - porque na editora tempo para divagações é escasso - entre as duas fases, ele se encanta ao fechar a porta e em ver o Felino e Rex ajuntaram-se a ele para lhe dar boas-vindas e mostrar a saudade diuturna que sentem. O castelo está completo sem as noites de escrever.

sábado, 18 de agosto de 2012

VIAGEM LXIX - NA CABEÇA

Reprodução do site www.paceintl.net

De um diálogo a dois, ou mesmo, um diálogo entre a voz do interlocutor e o pensamento deste mesmo interlocutor. É assim nestes tempos de nacionalismo barato, de falta de educação, de linchamento da minoria pela maioria ufanista. Pode ser 2012, pôde ser em 1912, ou ainda poderá ser em 2112. Aqui, na Terra das Maravilhas-Brasil, ou no Mali e seus tuaregues islâmicos loucos, ou ainda nos corredores gananciosos de Wall Street.

"Morar aqui nos (tristes talvez?) trópicos traz na memória outros lugares mais aprazíveis de se situar geograficamente. E traz também, outros lugares horrendos com seus governos e elites (sejam as ricas, sejam as criminosas - às vezes há a junção delas, mas nem sempre) que desejam a qualquer custo estabelecer o curso de nossas vidas.
E as minorias? 

--- Aqui, Pensamento, você é muito duro e cruel.  Não se pode ser um vergalhão férreo em não se deixar levar pelos ventos frescos de mudança. Elas estão aí, até mesmo no gigante do Oriente, a China.
--- Aqui, Voz, eu faço um esclarecimento: eles querem dominar o mundo. Sim, os chineses e sua indefectível massa populacional de quase 1,5 bilhão de habitantes. Fica fácil acreditar neste mundo das maravilhas - as navalhas - que você crê existir. Vergalhão? Esta comparação é minha, não sua.
--- Preste atenção: a humanidade está mudando e para melhor...

A Voz redarguiu um sem-fim de argumentos que, a determinada hora, o Pensamento elucubrou estar em uma plateia, na fila do gargarejo, ouvindo os infindáveis discursos dos dois falantes idiotas do Caribe. Riu de tamanha desgraça. Sentiu-se em Havana, mas poderia ser Caracas também.
E assim seguiu o diálogo, sem que o Pensamento contradissesse a Voz; então, diga-se, tornou-se um monólogo de maravilhas navalhadas em que cada um sente dor e onde cada um aceita a dor como melhor lhe aprouver.
Aço, ferro. Pontiagudo em rachar sua caixa craniana e misturar os dados cognitivos dos cérebros. Mas qual é este aço, este ferro? 

A voz voltando a falar e agora mais alto e com eloquência contumaz:
--- Não existe isto, este ferro, este aço.... Este vergalhão. O mundo é um espaço melhor para todos. Veja a ascensão de famintos à mesa posta, a ascenção dos desfavorecidos aos favorecimentos tantos... Repito. Reitero: rumanos para mais felicidade, não há como negar. Veja o progresso, a luz diante dos olhos de todos.
--- Existe o ferro, existe o aço e eles enfiam em sua cabeça para que fiquemos bem comparsas deles. Como? Parece complicado, entretanto, Voz, não é nada. Ficamos à mercê das ideias de sempre. O homo sapiens sapiens é bonzinho mesmo nos contos e estes bonzinhos vencem no maravilhoso mundo de 'todos'".

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

VIAGEM LXVIII - DESMANCHANDO

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Olhos no fim do dia no começo da madrugada, raspando feito areia,
o ar, seco como é em agosto.
Longe, mas muito longe, em algum ponto do oceano, ondas se erguem
e se desmancham nelas mesmas. Perceber rente sob água todo o movimento.
No fim, os olhos cansados das lágrimas que caem por todo rosto,
misturando-se àquela pele seca de meia-idade, de vincos tantos.

Nos voos - rente à água - vê-se a cidade por onde quer que se descubra; 
onde há gente que se esconde, que se aterra e que se horroriza.
Nada pode escapar daqueles olhos fatigados, secos e vermelhos.
Onde estão os trovões tonitroantes de antes,
aqui mesmo, perto e que foram se afastando feito uma
tempestade de sons que se vai, levando o ar úmido e fresco de outro tempo?

Uma viga ao longe e agarra-se a ela envonveldo seus braços 
só para savar o que restara daqueles estrato de vida e de luz.
(já na idade de se recolher também como os escondidos?)
Vem a correnteza e ribomba em seu corpo pressionado-o contra e
pressionando contra - igual à força constritora abraçando-o pelo corpo -
até a respiração tornar-se lenta, barulhenta, ainda assim, aguerrida.

Aí veio a vontade robusta de alternar entre segurar até cansar e ficar,
ou soltar, deixar-se levar; e no meio do turbilhão elevar-se para respirar.
Deseja enganar esta pressão, fazer-se mais inteligente, respondendo alto.
Em uma subida para não afundar, fixa-se no azul que vem da luz de cima.
Rota que é rota, verdade; única diante dos meandros de espumas, na miríade de ondas à esquerda, à direita. Um caminho é possível: desmanchando.

sábado, 11 de agosto de 2012

45 - ALEATÓRIAS HISTÓRIAS - ESCREVENDO

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Determinadas noites, aleatórias, o quarto de estudo torna-se o cômodo preferido pelas altas horas adentro porque ficando ali, pondo em ordem seus livros não publicados, mente ocupada com o que gosta, xícara na mão e a janela apenas com o vidro fechado.
Assim tem sido durante estes dias da semana o que ocasionou poucas horas dormidas. Banira o café da quinta para a sexta. Ontem, porque hoje...
Xícara com os ramos do café ao lado do pc.
Descalço, somente de bermuda sente-se confortável com o pequeno aquecedor elétrico ligado logo ao lado da cadeira voltado para sua cintura. "Aquece o ar sem ir direto na minha cara". 
Abre um, dois, três arquivos esquecidos há alguns meses. Retomar tais escritos para dar um fim digno como nos vários outros que escrevera. 
Apaga alguns que nem se lembra mais porque começara, mais alguns por achar o enredo fraco. E queda-se tranquilo e aquecido verificando um por um. Letras, sílabas, fonemas, palavras, frases, períodos.

Por fim, abre mais um e ainda pela metade, começa a reler a história do homem que vivia no mais alto prédio da cidade, no último andar - o 33º - e que pelas manhãs saía para trabalhar e quie demorava quase 10 minutos de percurso para chegar ao chão. Tudo normal com precisão cronométrica, até o dia, em que fica preso no elevador, desce entre o 16º e 17º andar e vê uma mulher - sua vizinha - sendo estuprada por dois homens mascarados, que nus fazendo dela um sanduíche 'estragado', o ameaçam apontando um revólver calibre .45; eles o dominam e o obrigam a estuprar a moça que parecia desacordada.
"Mas agora ela vai acordar. Está acordando e quem ela vai ver em cima dela, dentro dela é você", diz um deles com o cano em sua boca. 
O outro: "Será que ele vai funcionar para conseguir foder esta vagabunda de quinta que só me fodeu a vida? Sei não, pelo jeito ele não gosta da fruta. Vai ver é frutinha".

Havia escrito até esta cena 89 páginas; e a cena do estupro (dele acordando até estar pelado em cima da mulher) consumira mais quatro. Quando começara, houve a febre e passara horas escrevendo até seus dedos ficarem retorcidos de câimbras inúmeras vezes.
Mas hoje, sexta-feira, decide que vai reler todo ele para encontrar possíveis erros de gramática e/ou digitação.E pode alterar um frase, nada muito drástico.
Lá pelas 4h, suas costas pedem por um alongamento. Aproveita para andar um pouco por todo o espaçoso castelo sem mofo, sem cheiro de umidade, com as luzes apagadas; mas não é lua cheia e a ampla vidraça que dá para a sacada da sala não logra iluminar o lugar. Mesmo assim dirige-se à cozinha com o conselheiro-mor em seus braços e príncipe herdeiro, ficando grande para carregar, atrás deles. Faz-se a luz.
Todos com sede e agora com frio porque deixara a janela da lavanderia escancarada e o vento de agosto atiçou o corpo meio peludo mas desprotegido. Tudo fechado em seguida.
E o sono o venceu; ao passar pelo corredor vê o computador ligado, modo de espera e segue decidido para o quarto: daqui a pouco vai fazer 24 horas acordado. O séquito imperial vai à frente e cada um encontra seu lugar: Rex e Felino enrolam-se no tapete felpudo; ele agora com os pés gelados pega o meião do chão e o veste. Aconchedo embaixo dos edredons, o sono o faz derrapar na curva e capotar.

"Enevoado que mal vê metros ao lado e à frente. Acompanhado de seus 2 soldados subalternos, caminham em silêncio, escalando pequenos aclives, sendo cuidadosos nos declives escorregadios, sem se cansarem. Calçados sujos de barro da chuva da noite.
Pode sentor o ar úmido entrando pelas narinas que ainda detectam o cheiro de clorofila que espalha espelhando toda a vegetação ao redor. Um atrás do outro em uma fila indiana certeira: ele, o sorriso metálico e o de barba feita. Mas esta disposição muda logo e o caminho de se alarga e agora eles se ombreiam.
--- Fico me pertguntando porque resolveram me seguir até aqui sem reclamar de nada, pedir por nada... Porque escolheram minha companhia?
--- Companhia do exército legionário ou pela sua companhia pessoal? Pergunto porque no hospital de bichos muita gente quer qualquer um e alguns poucos preferem escolher quem vai cuidar deles.
--- Eu não sei disto que você está falando. Aliás, o que eu sempre soube é que sou bom para escrever.
--- Então quando a gente chegar no forte e você seguir adiante sozinho vai poder escrever no conforto de seu castelo arejado e seco. Eu e o médico de bichos vamos dar um refresco da nossa companhia. Mas você tem que ir se acostumando".

Pela respiração ofegante e movimentos bruscos, gemidos e grunhidos, ele sonha algo que vem depois que o está deixando agitado. Príncipe e conselheiro acordam com o rebuliço; e observam por segundos. Pronto, quando ele se acalma a manhã volta à toada do sossego e três seres dormem.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

VIAGEM LXVII - VALORES EM QUALQUER LUGAR

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Mais uma da série encontrada em algum tempo, em algum arquivo de computador, ou rabiscado à bic azul escrita grossa em caderno universitário de tantas divisões; ou mais antigo ainda: em algum manuscrito que fora escrito em algum tempo impreciso de grande intensidade pondo à prova um sentimento mais escondido.
A precisão norteou o que aqui vai escrito, daquela precisão que só mesmo aqueles das inglórias lutas diárias sem descanso sabem como fazer, ou tentam saber como fazer, mesmo com as adversidades impingidas dentro da mente/coração de cada um dos que foram, dos que estão e dos vierem. Não deve ter sido fácil.

"Movimentos de cima para baixo, da esquerda para direita, avançando e recuando, encantando ou enganando - das festas dionisíacas ao tempo que alguém pegar este aqui para ler.
Pobre, muito pobres tais seres que se levam por movimentos.
Neste tempo todo de movimentação de todo o corpo, vi por entre eles, a verdade a voar longe crendo que os valores são estes. Desvalorizados.
Quais? Aqueles de sempre: mova-se e ganhe muito, mas muito, dinheiro.
Também por aqui, por lá e por acolá.
Em Vladivostok, em São Miguel do Gostoso;
lá em Mindelo, ou ainda em Nova York.
Destes, todo o resto aparece apenas o resto daquilo que sobrou de algo que nunca foi de verdade; um condutor de verdade.
Porque as palavras bonitas que acompanham o movimento (só para dissimular) são palavras melífluas e que quase ninguém valoriza como querem que pensemos que devemos valorizam.

Pode ser em Maribor também, em Suva, em El-Aaiun.
E é tudo igual, sem ao menos um vislumbre de originalidade.
Não, não me venham com palavras 'firmes' (sempre as palavras) bonitas, não as quero e penso que nem você deverá querer.
Quero as atitudes e os gestos e os toques e os ouvidos. E quero isto em Rodes, em Alexandria, em Martinica, em nós todos de todos os lugares.Em centenas de milhões, nos bilhões das planícies, dos planaltos, litorais e ilhas. Do topo à depressão beira-mar. Nos encarapitados em São Paulo, em Casablanca, em São Petersburgo, em Osaca...
Porque não pode ser ao mesmo tempo?
Porque os que governam nossas vidas, porque o papel creditado às explorações, às descobertas, às guerras, aos desmandos ramificam-se feito planta que se espalhas pelo chão tomando conta. 

Agora são os movimentos de grupos que tentaram - não em vão no total -, mas ingloriamente dissolver este poder calculado e mantido e que nos dá alguma migalha para que nos satisfaçamos e assim nos conformemos.
Sabem, esta é a grande lâmina da guilhotina desde a Revolução Francesa que nos poda e traz uma benesse capital apenas àqueles poderosos que tentamos apear do grande poder estabelecido. No amor, ele é fincado como uma estaca para matar um vampira-conde da Transilvânia e dissolvê-lo; e nos dissolvem. E eles matam, ganham na grande maioria das vezes porque nos desvanecemos e nos rendemos às sereias malignas.
Vem sendo assim desde a Grécia Antiga.
Quais são os valores de sua pessoa, de seu amor? Variáveis ao sabor do vento? Inflexíveis como um vergalhão?
Resta uma alternativa? De saber que tudo o que está aí dentro de você pode 'singrar' por todo o seu corpo e perpeturtando mudanças - as bem-vindas e necessárias -, trazer-lhe para mais perto de si. Mesmo que todo o conceito citado logo acima recorra a deslealdades de praxe e concorra como soberana e única perante todos os outros.
Cada um e seus valores. Vale mais, ajuda mais; deixem-se levar pelas ondas de mudança para que o que na carne crua o espinho sangra e finca torne-se menos purulento".

sábado, 4 de agosto de 2012

VIAGEM LXVI - MINIATURAS

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Sábado de manhãzinha, um dos melhores dias e das melhores horas, para sair pelas rotas da metrópole para continuar sua tarefa que não tem fim.
Nem mesmo que pudesse voar para perto do céu - e olhando as pessoas tornarem-se meras formigas e os carros miniaturas de infância - sentir-se-ia desobrigado de realizar sua lida que vem desde tempos imemoriais para ele.
Sábado é bom porque existem os drogados - incluem-se os bêbados - que vagueiam tentando voltar para casa ou aqueles que vagueiam ainda em busca de mais: diversão, sexo, droga, companhia e tudo o mais. São presas das tão fáceis que se deixam levar por aquilo que os faça brilhar os olhos. Aliás, mais fáceis que eles só mesmo os arrogantes. 
"Estes são demasiadamente babacas!"

Aqui, no caso, logo pelas 5h e pouco, há alguns caminhos que são mais prováveis de lograr êxito sem muitas dificuldades e com calma extrema mesmo quando ela possa parecer distante. Centro e Bela Vista, acabara de se decidir por estes bairros.
Lá vai então.
Como não dormira nada à noite, seu humor quedara-se irascível, fazendo-o andar pela casa desejoso de voar bem alto... Mas voar é para os pássaros; dirigir ele pode. 
Ao entrar no semi-novo sedã de velho queda-se mais assertivo afastando a ira anterior e a impaciência  porque para realizar o que ele realiza, estes dois "conceitos" digamos assim, além de não ajudarem, atrapalham e muito. 
Fim de madrugada agradável de agosto neste dia. Passeando em uma calmaria típica, com o rádio ligado, ouve uma antiga música em inglês que - traduzindo em seu razoável conhecimento do idioma shakespeariano - proclama que "todo homem deve ser livre".

--- Livre para quê mesmo? Tem um monte por aí que nem mesmo é livre, e o pior, acha que é. Tem também que para alcançar esta liberdade nesta sociedade... Ou pelo $/arrogância/esteticismo barato... Prepotência, inveja, poder, droga/álcool... Tem também 'o puxar o tapete'. O machismo truculento, o feminismo idiota, a homofobia raivosa, o especismo mesquinho, o racismo brancos e negros, xenofobia odiosa... Enfim, tem para todos o meu trabalho. Esquecer eu não esqueço nenhum deles. Verdade que a lista é infidável! 
Acréscimos são como os dias que se seguem...
E ri desdenhosamente dos imbecis que, por ventura em algum determinado momento, tentarão escapar para então, se situarem que escapatória é ilusão.
Vê-se inerte em seus pensamentos que resolve adiar um pouco o início, e "para que a pressa". Quer mesmo esparar o raiar e sob a luz do dia fazer desaparecer a olhos nus, os noctívagos e afins. A atenção é instrumento básico da operação.

--- Livre? Onde é que se é livre neste mundo? Só para constar, acho que este conceito inexiste para estes padrões que nos colocaram desde sempre. Não pode isto, mas aquilo pode; a alguns muito se é permitido e para poucos nada... Porque mesmo?

Esquinas lotadas, filas em clubes noturnos, moderninhos, "drogaditos", traficantes e seguranças. Passeia dando voltas por ali perto da rua Augusta, mas seu alvo ele já identificou. Disfarçado como "mais um dos que frequentam" por aqui, ele resolve estacionar o sedã em um ponto estratégico. Misturando-se aos locais - os moderninhos - é mel na chupeta.
"Sou só mais um a voar em busca do 'verão'". 
Eletricamente, ficou ereto dentro da calça jeans só de pensar em mais uma manhã de árduo trabalho. Deixa as miniaturas de criança para se concentrar nos maiores.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

VIAGEM LXV - BAIXINHO, BAIXINHO...

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EU NÃO SABIA DO QUE O AMOR ERA CAPAZ DE ME DAR ATÉ VOCÊ APARECER
Depois de tantos anos, mais de uma década e eu já acostumado ao meu viver simples, tranquilo nem podia imaginar que você apareceria em minha vida e derrubaria as barreiras erguidas com o tempo de sofrimento que me fez ser o que eu era até agora: sozinho, mas sem precisar de ajuda, nem que me acudissem, porém solitário na grande cidade que não para.
Você veio, mansamente, e bagunçou todas as regras à revelia. Misturou-se em minha vida; eu, bem calejado, refutei tal sentimento e tal abordagem. De que adiantou? Nada, você já tinha adentrado em minha vida antes mesmo que eu pudesse esboçar movimentos de reação contrária.
Paciência foi (e é) a grande virtude que você tem dentro de seu coração vermelho, maior e destemido em amar; e você quedou-se paciente, sem atropelos... Até aquela noite que fui vencido pelo seu amor vertido, até que as barreiras trincassem expondo meu coração ao seu, até aquele beijo que eu simplesmente não consegui resistir - eu tentei no início passando em minha mente as dores do passado - e que me fez esquecer todo - todo mesmo - o resto e o que tinha sido até então. Em seguida, minha boca queria ser sua, minha respiração queria respirar o ar que vinha de dentro de você.
Isto foi só o começo.
Era noite, tarde dela já.
E eu fiquei pensando...

Acabamos diferente das outras vezes que você, sutilmente paciente - tentara me desamarrar de mim mesmo: eu fui de braços abertos, coração disparado e olhos que brilhavam. Desta vez, criamos uma cumplicidade sem volta à nossa volta.
Só de amores ficamos naquelas horas da noite de agosto, o mês de desgraça para todo o mundo que pensa assim; eu não, Deus me deu uma graça finita em matéria, em carne, e infinita em sentimento: você.
Acabamos, tranquilos depois de tanto frenesi, enchendo o quarto de barulhos sôfregos, de suores derramados e de vida. Lençol e edredon enrolando-nos como vestes.
Água bebemos do mesmo copo. Queria ser mais seu! Queria ser seu para sempre.
Não tinha mais o que eu pudesse fazer mais para ser mais seu e por isto, eu quase me acabrunhei. 
Você e a sua paciência usual, de voz rouca disse: você já é meu.
"Deita aqui junto, se encosta em mim..."

Lembro bem, eu chorando baixinho... De felicidade naquele instante de madrugada...
Eu e você no quarto depois de um amor que se completa um ao outro.
Quis envolver-me para me fazer dormir.
Eu ainda chorando baixinho, bem baixinho...
E você pergunta com a voz sonolenta:
"Porque está chorando?". Eu disse que era porque eu estava feliz, completo e pacífico como uma paz eterna que só mesmo você podia me dar. Olhou para mim e escancarou um sorriso que o mundo ali, naquele instante, podia acabar porque seu sorriso trouxe um conforto ancestral nunca experimentado.
E vi você adormecer comigo em seus braços e gostei disto. E escutando sua respiração aprofundar-se, pausadamente, iniciando o sono eu pude perceber a felicidade naquele quarto de nós dois, naquele cheiro de nós dois, naquela tranquilidade posta pela primeira vez e que me conquistara. Cada vez mais longa e quem dormiu primeiro foi você. E eu? Bem, eu ainda fiquei ouvindo você e vendo você dormir por algum tempo. Para mim, o mundo se resumia onde estávamos e em seu calor aquecendo meu corpo, fazendo meu coração bater com uma calma que antes eu não tinha nem noção. Logo depois, foi minha vez de adormecer me sentindo o mais feliz do mundo.